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Presos Fase II (1961-1974)

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Portaria n.º 18539, de 17 de junho de 1961, assinada por Adriano Moreira, reabrindo o Campo do Tarrafal, agora com o nome de "Campo de Trabalho de Chão Bom"

O Campo de Concentração do Tarrafal recebeu, pela Portaria n.º 18.539, de 17 de junho de 1961, a designação de “Campo de Trabalho de Chão Bom” – reabertura assinada pelo ministro do Ultramar, Adriano Moreira.

Nessa segunda fase, e até à libertação do Campo no dia 1.º de maio de 1974, ali foram encarcerados 107 presos de Angola, 100 da Guiné e 20 de Cabo Verde, tendo falecido 4 desses presos.

Em 1969, perante a “tentativa de golpe-de-mão inimigo”, o campo foi muralhado – como despachou então o ministro do Ultramar, Joaquim da Silva Cunha, “a prudência aconselha que se execute a obra projetada.”

Apresentamos seguidamente a lista de todos os presos, por ordem alfabética do primeiro nome, de acordo com a respetiva naturalidade.

Abraão Cachumbo

Nasceu em Catembe (Bié) c. 1927, filho de Cachumbo e de Nandolo. Ajudante de enfermeiro no Caminho-de-Ferro de Benguela, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Adão Domingos Martins

Adão Domingos Martins
Nasceu em Catete a 15-11-1909. Enfermeiro, residente no Bairro do Cemitério Novo (Bairro Popular) terá sido levado por Mendes de Carvalho para o clube recreativo (e político) «Espalha Brasa». Detido a 3 de abril de 1959, num dos processos judiciais vulgarmente identificados como «Processo dos 50». Como outros do «grupo dos enfermeiros», foi acusado de pertencer ao «ELA», grupo activo na clandestinidade desde o início dos anos 50, com ligações a nacionalistas em Angola e no exterior. Em março tentaram enviar para o Gana (via Congo-Léopoldville) um «Relatório» sobre a opressão colonial em Angola, cujo mensageiro foi detido pela PIDE no aeroporto de Luanda, o que originou sucessivas prisões. No Tribunal Militar Territorial, acusado de «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (20-12-1960) a 4 anos de prisão e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos prorrogáveis. Chegou ao Tarrafal a 26-02-1962 e saiu, em liberdade condicional com residência fixa em Luanda, a 02-02-1969.

Afonso Figueira

Nasceu em Chindinge (Malanje) c. 1905, filho de Sanduva e de Duva. Catequista, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Afonso Gomes

Afonso Gomes
Nasceu em Quipanda, Sanza Pombo (Uíje) c. 1925, filho de Matango e de Zuge. Agricultor, Foi preso, em data e local não identificados, por pertencer à União das Populações de Angola (UPA), desde 1962 integrada na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), movimento independentista que combatia no Norte de Angola. Acusado de angariação de fundos e de participação na revolta de 15 de março de 1961, incluindo ataques a fazendas e povoações e emboscadas à tropa portuguesa, foi julgado no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola (Processo 118/65) e condenado (sentença de 28-05-1969) a 2 anos de prisão maior, 2 meses de multa, e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e saiu a 01-08-1972, com residência fixa em Luanda por 3 anos.

Agostinho André Mendes de Carvalho

Agostinho André Mendes de Carvalho
«Uanhenga Xitu» Nasceu em Calomboloca a 29-08-1924. Enfermeiro em Luanda, trabalhou também noutras regiões de Angola. Co-fundador do grupo recreativo e político «Espalha Brasa», parte do qual se juntou ao grupo «ELA», os seus contactos alargaram-se ao Congo-Léopoldville (como Barros Nekaka da UPNA, depois UPA) onde esteve em finais de 1958 e início de 1959, reforçando as desconfianças da PIDE. Foi preso a 3 de abril de 1959, após a detenção a 28 de março do jovem Lisboa, no aeroporto de Luanda, quando levava correspondência do «ELA» para Armando da Conceição, em Léopoldville/Kinshasa, que faria chegar ao Gana um relatório sobre a opressão colonial em Angola. Julgado no Tribunal Militar Territorial por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (20-12-1960) a 10 anos de prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 25-02-1962. Convivendo com escritores presos descobriu a sua veia literária, publicando mais tarde vários livros. Saiu a 12-07-1970, com residência fixa em Luanda.

Alberto Correia Neto

Alberto Correia Neto
Nasceu em Quimbele (Uíje) a 08-07-1949. Estudante em Luanda, pertencia ao «Comité Regional de Luanda» (CRL) coordenado por Juca Valentim, grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) que se subdividia em várias células, reunindo sobretudo estudantes, mas não só. Além da mobilização política e distribuição de panfletos, enviavam aos guerrilheiros da 1ª Região informações e roupa, medicamentos, sabão, munições… A sua extensão e actividade preocupavam a PIDE que infiltrou a rede e em outubro e novembro de 1969 fez dezenas de prisões, dividindo o grupo: os brancos foram enviados para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, foram enviados para S. Nicolau (sul de Angola) excepto um pequeno grupo, «mais perigoso», enviado para o Tarrafal. Alberto Neto ficou em prisão preventiva até abril de 1970, quando lhe foi aplicada a medida administrativa de fixação de residência por 6 anos em Cabo Verde (despacho do Ministro do Ultramar 09-04-1970). Chegou ao Tarrafal a 14-05-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Alcino de Carvalho Borges

Nasceu em Luanda a 28-10-1950. Estudante, pertencia ao «Comité Regional de Luanda» (CRL), grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) subdividido em várias células, sobretudo de estudantes mas incluindo também trabalhadores. Além do estudo e mobilização política, e distribuição de panfletos, procuravam apoiar os guerrilheiros e populações da 1ª Região com informações, roupa, medicamentos, sabão, munições… A PIDE infiltrou essa rede de apoio e em outubro e novembro de 1969 fez dezenas de prisões. Depois dividiu-os: os brancos foram para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, foram enviados para S. Nicolau (sul de Angola) excepto os «mais perigosos», enviados para o Tarrafal. Ficou em prisão preventiva em Luanda até abril de 1970, quando lhe foi aplicada a medida administrativa de fixação de residência por 6 anos em Cabo Verde, por despacho do Ministro do Ultramar de 9 de abril de 1970. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-05-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Aldemiro Justino de Aguiar Vaz da Conceição

«Tininho» Nasceu em Luanda a 12-12-1948. Tinha sido militar do exército colonial e pertencia à célula Kimangua do «Comité Regional de Luanda» (CRL), coordenado por Juca Valentim. Esse grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), além do estudo e mobilização política, e distribuição de panfletos, procurava apoiar os guerrilheiros e populações da 1ª Região com informações, roupa, medicamentos, sabão, munições… A PIDE infiltrou essa rede de apoio e em outubro e novembro de 1969 fez dezenas de prisões. Depois dividiu-os: os brancos foram para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, foram enviados para S. Nicolau (sul de Angola) excepto os «mais perigosos», enviados para o Tarrafal. Ficou em prisão preventiva em Luanda até abril de 1970, quando lhe foi aplicada a medida administrativa de fixação de residência por 6 anos em Cabo Verde, por despacho do Ministro do Ultramar de 9 de abril de 1970. Chegou ao Tarrafal a 14-05-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Amadeu Timóteo Malheiros de Amorim

Amadeu Timóteo Malheiros de Amorim
Nasceu em Luanda (Angola) a 03-08-1937. Electricista da Câmara Municipal de Luanda, ainda muito jovem esteve ligado ao Clube Atlético de Luanda (CAL) e à Associação dos Naturais de Angola (ANANGOLA). Integrou o histórico grupo musical Ngola Ritmos. Essas ligações levaram-na à actividade política clandestina, nomeadamente elaboração e distribuição de panfletos. Foi preso em 1959 acusado de pertencer ao Movimento para a Independência de Angola (MIA), num dos três processos do dito «Processo dos 50». Passou por várias cadeias até ser julgado por «crime contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» e sentenciado (02-12-1961) pelo Tribunal Militar Territorial de Angola a 18 meses (já cumpridos à data da sentença) e medidas de segurança com internamento, prorrogáveis. Foram essas medidas que justificaram o envio para o Tarrafal, onde chegou a 26-02-1962, sendo libertado a 02-12-1964. Em liberdade condicional em Lisboa e sem recursos, regressou a Luanda em fevereiro de 1969, com obrigação de se apresentar regularmente na sede da PIDE.

Américo Adão

Nasceu em Cassoneca (Icolo-e-Bengo) a 18-07-1942, filho de Adão António e de Camãe. Alfaiate de profissão, o peso da sentença reflecte a condição de combatente na guerra de libertação contra o domínio colonial português, mas não foi possível esclarecer a que organização pertencia (MPLA ou UPA/FNLA, ambas actuando no norte de Angola). Foi capturado em data e local incertos e incluído no Processo-crime 57/67 (com Diogo José, António Francisco e António Lamba). Foi julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola e condenado (sentença de 23-10-1968) a 20 anos de prisão maior, 20 meses de multa, e medidas de segurança com internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

André Franco de Sousa

André Franco de Sousa
Nasceu no Luso/Luena (Moxico) a 12-08-1931. Guarda-livros, esteve activamente envolvido na fase panfletária do movimento independentista, nomeadamente no grupo liderado por Ilídio Machado, com o qual terá tido contactos com os marinheiros norte-americanos Barnett e Holder que levavam e traziam correspondência clandestina para vários grupos em Luanda, assim como com Amílcar Cabral. Foi preso a 1 de Junho de 1959, passou pela prisão de São Paulo e pela Casa de Reclusão Militar e foi solto, mediante caução, a 13 de outubro. Era acusado de pertencer ao Movimento para a Independência de Angola (MIA), num dos três processos do dito «Processo dos 50». Julgado por «crime contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (02-12-1961) pelo Tribunal Militar Territorial de Angola a 3 anos e 2 meses de prisão maior. Chegou ao Campo do Tarrafal a 25-02-1962 e foi libertado a 13-11-1963, com residência fixa em Luanda.

André Mateus Neto

Nasceu em Cassoneca, Icolo-e-Bengo (Luanda) a 28-07-1929. Carpinteiro de profissão e com antecedentes de ligação à luta armada, pertencia ao «Comité Regional de Luanda» (CRL), grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) coordenado por Juca Valentim, com várias células, de estudantes e trabalhadores. Além do estudo e mobilização política, e distribuição de panfletos, procuravam apoiar os guerrilheiros e populações da 1ª Região com informações, roupa, medicamentos, sabão, munições… A PIDE infiltrou essa rede de apoio e em outubro e novembro de 1969 fez dezenas de prisões. Depois dividiu-os: os brancos foram para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, foram enviados para S. Nicolau (sul de Angola) excepto os «mais perigosos», enviados para o Tarrafal. Após meses de prisão preventiva em Luanda, foi-lhe aplicada a medida administrativa de fixação de residência por 8 anos em Cabo Verde (despacho do Ministro do Ultramar de 09-04-1970). Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-05-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

André Rodrigues Mingas Júnior

André Rodrigues Mingas Júnior
«João da Costa Macongo» Nasceu em Sambuilo (Cabinda) a 15-11-1905. Funcionário público (2º oficial de Fazenda) foi preso a 03 de abril de 1959 num dos processos judiciais conhecidos como «Processo dos 50». Foi acusado de pertencer ao «ELA», onde se terá integrado em 1958. O ELA, grupo activo na clandestinidade desde o início dos anos 50, com ligações a outros nacionalistas em Angola e no exterior, tentou em março de 1959 enviar para o Gana (via Congo-Léopoldville) um «Relatório» sobre a opressão colonial em Angola, que André Mingas Júnior assinara como «João da Costa Macongo». A detenção pela PIDE do mensageiro, no aeroporto de Luanda, desencadeou sucessivas prisões. Julgado no Tribunal Militar Territorial de Angola por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (20-12-1960) a 5 anos de prisão maior e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 26-02-1962 e saiu, em liberdade condicional com residência fixa em Luanda, a 11-10-1964.

António Capita

Nasceu em Catulo, Quitexe (Uíje) c. 1939, filho de João Bengue e de Juliana Cuta. Agricultor, foi preso em data e local não identificados, por pertencer à União das Populações de Angola (UPA), desde 1962 integrada na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), movimento independentista que combatia no Norte de Angola. Acusado de participação na revolta de 15 de março de 1961, incluindo ataques a fazendas e povoações, foi julgado no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola (Processo nº 63/65) e condenado (sentença de 30-04-1966) a 3 anos e 8 meses de prisão maior, 6 meses de multa, e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 23-12-1971.

António Dias Cardoso

António Dias Cardoso

Nasceu em Luanda a 8-04-1933. Chefe de Secretaria da «Associação dos Naturais de Angola» (ANANGOLA), escritor e colaborador da «Sociedade Cultural de Angola» (SCA), foi detido em 1959 pela PIDE, na vaga de prisões que em Angola deu lugar a três processos judiciais vulgarmente conhecidos como «Processo dos 50». Libertado, foi de novo preso em finais de 1961, com António Jacinto e Luandino Vieira (todos nesta altura já ligados ao MPLA) tendo o processo sido remetido ao Tribunal Militar Territorial em 1962. A sentença por «crimes contra a segurança externa do Estado» (22-07-1963) foi das mais pesadas para presos políticos não combatentes: 14 anos de prisão maior e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 13-08-1964 e saiu a 01-05-1974. Lembrado pelos seus companheiros de prisão como rebelde e desafiador em relação às autoridades naquele campo prisional, ali sofreu alguns dos mais violentos castigos. Sem direito a liberdade condicional, permaneceu preso até ao encerramento do Campo, em maio de 1974.

Tarrafal, Campo da Morte Lenta
Memórias
Autor: António Cardoso
Editora: União Escritores Angolanos, Luanda, 1979

António Francisco ou António Francisco Caliota

Nasceu em Porto Amboim (Kwanza-Sul) c. 1939, filho de Cariota (ou Caliota) e de Teresa. Tractorista de profissão, foi detido em data e local incertos e não foi possível estabelecer a sua eventual filiação política. Incluído no Processo-crime 57/67 (com Diogo José, António Lamba e Américo Adão), foi julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola e condenado, por acórdão do Supremo Tribunal Militar (05-12-1968), a 6 anos de prisão maior, 6 meses de multa (em substituição do pagamento em dinheiro) e 6 meses a 3 anos de medidas de segurança. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

António Jacinto do Amaral Martins

António Jacinto do Amaral Martins

Nasceu em Luanda a 28-09-1934. Gerente comercial e escritor, envolvido em associações e publicações culturais («Mensagem» da ANANGOLA, «Cultura» da Sociedade Cultural de Angola), foi co-fundador dos clandestinos Partido Comunista Angolano e Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA). Em 1959, na vaga de prisões da PIDE que originou os processos judiciais conhecidos como «Processo dos 50», foi detido, depois solto e novamente preso em finais de 1961, com Luandino Vieira e António Cardoso, por ligação ao MPLA. A sentença do Tribunal Militar Territorial (22-07-1963) por «crimes contra a segurança externa do Estado» foi das mais pesadas para não combatentes: 14 anos de prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 13-08-1964. Ali deu aulas a outros presos e inspirou alguns a serem escritores. Saiu a 24-06-1972, em liberdade condicional, com 5 anos de residência fixa na «Metrópole», de onde fugiu, juntando-se ao MPLA no Congo-Brazzaville, base da guerrilha em Cabinda. Foi o primeiro Ministro da Educação e Cultura de Angola.

Sobreviver em Tarrafal de Santiago
Memórias
Autor: António Jacinto
Edição: Instituto Nacional do Livro e do Disco, Luanda, 1985
 

António José Contreiras da Costa

António José Contreiras da Costa
Nasceu na Funda, Icolo-e-Bengo, a 06-12-1932. Empregado comercial, residente no Bairro Marçal (Luanda), era um dos dirigentes (com Lopo do Nascimento e Manuel dos Santos Júnior), do clube recreativo (e político) «Botafogo», camuflagem para consciencialização política. Em 1958 juntou-se ao «Movimento de Libertação Nacional» (de Veloso, Calazans Duarte e outros com ligações ao Partido Comunista Português). Co-autor, com Manuel dos Santos Júnior «Capicua» do panfleto «Ao mundo inteiro – Angola é dos Angolanos». Detido a 5 de agosto de 1959 na vaga de prisões da PIDE que em Angola deu lugar aos três processos judiciais vulgarmente conhecidos como «Processo dos 50». Acusado de «crime contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta», foi sentenciado (25-01-1961) a 4 anos de prisão maior, suspensão de direitos políticos por 15 anos e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 25-02-1962 e saiu em liberdade condicional a 11-09-1964.

António Lamba

António Lamba
Nasceu em Cariango, Quibala (Kwanza-Sul) c. 1924, filho de Lamba e de Umba. Cozinheiro de profissão, não foi possível esclarecer a que organização pertencia nem as circunstâncias da sua detenção, em data e local incertos. Foi incluído no Processo-crime 57/67 (com Diogo José, António Francisco e Américo Adão) e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 23-10-1968) a 2 anos de prisão maior, 2 meses de multa (substituindo o pagamento em dinheiro) e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969, onde caiu doente em 1971 (tuberculose pulmonar), sem que tivesse a devida assistência. Saiu, em liberdade condicional, a 27-01-1972.

António Marques Monteiro

António Marques Monteiro
Nasceu em Luanda a 19-07-1920. Empregado no Banco de Angola, aproveitou para ali reproduzir panfletos («Manifesto Africano»). Preso em 5 de Junho de 1959 foi acusado de pertencer ao Movimento para a Independência de Angola (MIA), num dos três processos do dito «Processo dos 50». Os maus-tratos sofridos levaram ao seu internamento na Neuropsiquiatria em julho desse ano. Julgado no Tribunal Militar Territorial de Angola por «crime contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (02-12-1961) a 21 meses de prisão (já cumpridos à data da sentença) e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos, as quais justificaram o seu envio para o Tarrafal, onde chegou a 25-02-1962. Libertado a 02-12-1964, seguiu para Lisboa e depois para Luanda, com residência fixa. Ficou famoso o seu culto por Njinga Mbande, símbolo anticolonial cujo nome aparece em vários panfletos, convencendo o Cónego Manuel das Neves a rezar uma missa por ela a 17 de dezembro de 1958 (aniversário da morte).

António Pedro Benge

António Pedro Benge
«Ernest Guendes» Nasceu em Cabinda a 09-10-1902. Funcionário dos Serviços de Saúde, aposentado, detido em abril de 1959 na vaga de prisões da PIDE que deu lugar aos processos judiciais usualmente designados «Processo dos 50». Era um dos «mais-velhos» líderes do grupo independentista ELA, activo na clandestinidade desde o início dos anos 50, com ligações a outros nacionalistas em Angola e no exterior. Subscreveu exposições enviadas ao American Comittee on Africa (AcoA) e à Comissão das Curadorias da ONU. Em março enviaram para o Gana um «Relatório» sobre a situação em Angola, mas o portador foi detido pela PIDE no aeroporto de Luanda, desencadeando sucessivas prisões. Benge assina em primeiro lugar, sob o pseudónimo «Ernest Guendes». Acusado no Tribunal Militar Territorial de Angola de «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (20-12-1960) a 10 anos de prisão e medidas de segurança. Chegou ao Tarrafal a 26-02-1962. Depois, muito doente, foi evacuado sob prisão para um hospital em Lisboa, falecendo a 13-09-1962.

Armando Ferreira da Conceição Júnior

Armando Ferreira da Conceição Júnior
«Capucho João» Nasceu em Luanda a 22-11-1926. Funcionário público, mudou-se em 1954 para o Congo-Léopoldville empregando-se no Consulado português. A 3 de abril de 1959 foi detido e expulso pelos Belgas para Luanda, onde a PIDE o esperava. Era um dos contactos externos do grupo «Espalha Brasa» e do «Grupo ELA» que tentou enviar-lhe um «Relatório» sobre a situação em Angola, destinado ao Gana. O portador foi detido pela PIDE no aeroporto de Luanda, desencadeando sucessivas prisões, no que ficou conhecido como «Processo dos 50». O Tribunal Militar Territorial (20-12-1960) condenou-o por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» a 7 anos prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 26-02-1962. Terminada a pena (27-04-1967) entrou no período de medidas de segurança até 13-07-1971, quando o Tribunal da Relação de Lisboa o libertou, com residência fixa em Luanda. Ficou clandestinamente em Lisboa até fugir para França (janeiro de 1972), só voltando depois do 25 de Abril.

Armando José Chilala

Nasceu no Bailundo (Huambo) a 25-01-1934, filho de Chilala e de Luciana. Funcionário público, era Chefe de Posto no Cuemba (Bié). Foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Armindo Augusto Fortes

Armindo Augusto Fortes
«Mongol» Nasceu em Marimba (Malanje) a 28-05-1936. Estudou electricidade na Escola Industrial de Luanda, foi atleta do Clube Atlético de Luanda e trabalhou alguns anos nos Serviços Geográficos e Cadastrais de Angola. Em 1960 tentou prosseguir estudos em Portugal mas em 1961 fugiu para França, num dos grupos da famosa «Fuga dos Cem». Foi para o Gana e dali para os Estados Unidos, com uma bolsa de estudos do Departamento de Estado, matriculando-se em Sociologia na Universidade de Rochester. Em 1964 pediu a sua integração no MPLA, foi para o Congo-Brazzaville e juntou-se à luta armada na região de Cabinda (em 1967 fez parte do Esquadrão Bomboko). Dado como desaparecido pelos seus camaradas em 1968, terá sido capturado pela tropa portuguesa. Julgado no 1º Tribunal Militar Territorial (18-06-1968), o peso da sentença reflecte a condição de combatente na guerra de libertação contra o domínio colonial português: 21 anos de prisão maior e 1 a 3 anos de medidas de segurança. Chegou ao Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

Artur Menezes Chingule

Nasceu em Quissende, Catabola (Bié) a 15-10-1922, filho de Chingule e de Nangueva. Pedreiro de profissão, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Augusto Kiala Bengue

Augusto Kiala Bengue
«Quimbandeiro» Nasceu na Damba (Uíje) a 19-01-1938, vivendo algum tempo no Congo-Léopoldville. Foi preso em maio de 1961 por envolvimento no «4 de Fevereiro». Ligado à UPA e também aos Tocoistas, foi o principal responsável pelos rituais mágico-religiosos de preparação daquela acção. Saiu em liberdade condicional em 1966. Foi cooptado por Vicente Pinto de Andrade para o «Comité Regional de Luanda» (CRL), grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), sobretudo de estudantes mas não só. Além da mobilização política, apoiavam a 1ª Região com informações, roupa, medicamentos, sabão, munições… A PIDE infiltrou essa rede de apoio e no final de 1969 fez dezenas de prisões. Depois dividiu-os: os brancos foram para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, foram enviados para S. Nicolau (sul de Angola) e os «mais perigosos» para o Tarrafal. Após meses de prisão em Luanda, foi-lhe fixada (09-04-1970) residência em Chão Bom por 6 anos. Chegou ao Tarrafal a 14-05-1970 e saiu a 01-05-1974.

Aurélio Garcia

Nasceu em Sangondo (Bié) a 28-08-1927, filho de Garcia e de Nangulungo. Pedreiro de profissão, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Belarmino de Sabugosa Vandúnem

Belarmino de Sabugosa Vandúnem
«Cassule Angola» Nasceu em Massangano a 01-11-1911. Enfermeiro, residente na Praia do Bispo (Luanda), em 1958 foi levado por António Pedro Benge para o «ELA» (activo na clandestinidade desde o início dos anos 50). Membro do clube recreativo (e político) «Espalha Brasa», relacionava-se também com outros grupos nacionalistas. A 20 de outubro de 1959 foi detido e depois incluído num dos processos judiciais vulgarmente referidos como «Processo dos 50», acusado de pertencer ao «Grupo ELA» que tentara enviar ao Gana (via Congo) um «Relatório» sobre a situação em Angola. Belarmino colaborara na redacção e subscrevera-o com o pseudónimo «Cassule Angola». A detenção do mensageiro pela PIDE, no aeroporto de Luanda, originou sucessivas prisões. Julgado no Tribunal Militar Territorial de Angola por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (20-12-1960) a 5 anos de prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 25-02-1962 e saiu, em liberdade condicional com residência fixa em Luanda, a 11-09-1964.

Bento Quipaia

Bento Quipaia
Nasceu em Povo Mateus (Uíje) a 15-05-1914, filho de Mozaba e de Mafuani. Agricultor, foi preso em data e local não identificados, por pertencer à União das Populações de Angola (UPA), desde 1962 integrada na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), movimento independentista que combatia no Norte de Angola. Acusado de participação na revolta de 15 de março de 1961, ajudando a organização, fornecendo armas e, apesar da idade, participando em ataques às fazendas agrícolas, foi julgado no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola (Processo nº 63/65) e condenado (sentença de 30-04-1966) a 6 anos de prisão maior, 7 meses de multa, e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

Bernardo Lopes Teixeira

Bernardo Lopes Teixeira
«Nado» Nasceu no Golungo Alto (Kwanza-Norte) a 05-06-1949. Funcionário da Junta Provincial de Povoamento, pertencia à célula «Kimangua» do «Comité Regional de Luanda» (CRL), grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) que reunia sobretudo estudantes, mas não só. Além da mobilização política, procuravam enviar para a 1ª Região informações e roupa, medicamentos, sabão, munições… A sua actividade preocupava a PIDE que infiltrou a rede e em outubro e novembro de 1969 fez dezenas de prisões, dividindo-os: os brancos foram para Lisboa, para serem julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, enviados para S. Nicolau (sul de Angola) excepto os «mais perigosos», enviados para o Tarrafal. Após meses de prisão, foi-lhe aplicada a medida administrativa de fixação de residência por 6 anos em Cabo Verde (despacho do Ministro do Ultramar 09-04-1970). Chegou ao Tarrafal a 14-05-1970 e saiu a 05-07-1973, transferido «por decisão superior», sob prisão, para S. Nicolau com uma pena de 3 anos de internamento (despacho do Governador-geral de 13-07-1973). Libertado após o 25 de Abril.

Bernardo Loureiro ou Bernardo Mavinga

Bernardo Loureiro ou Bernardo Mavinga
Nasceu em Quiteca, Damba (Uíje) a 28-08-1932, filho de Paulo Bunga e de Mariana Bati. Foi preso, em data e local não identificados, por pertencer à União das Populações de Angola (UPA), desde 1962 integrada na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), movimento independentista que combatia no Norte de Angola. Acusado de angariação de fundos e de participação na revolta de 15 de março de 1961, incluindo ataques a fazendas e povoações e emboscadas à tropa portuguesa, foi julgado no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola (Processo 118/65) e condenado (sentença de 28-05-1969) a 5 anos prisão maior, 5 meses de multa e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e saiu, em liberdade condicional com residência fixa na ilha de Santiago (Cabo Verde) por 3 anos, a 25-09-1972. Carpinteiro e marceneiro, no Tarrafal fazia alguns trabalhos numa pequena oficina onde teve como ajudante e aprendiz Luandino Vieira.

Caponde

Caponde
Nasceu em Chamangongo (Moxico) a 04-10-1928, filho de Sachindonene e de Nassula. Pedreiro de profissão e catequista de uma igreja protestante, foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 10-10-1968) a 6 meses a 3 anos de medidas de segurança de internamento, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal no primeiro grupo de presos da UNITA a 08-08-1969 e saiu, em liberdade condicional, a 13-10-1971.

Carlos Alberto Pereira dos Santos Van-Dúnem

Carlos Alberto Pereira dos Santos Van-Dúnem
«Beto» Nasceu em Luanda a 28-07-1935. Cresceu no Bairro Operário e à data da prisão era mecânico de automóveis e máquinas industriais nas oficinas da firma Gomes & Irmão. Orientado principalmente por Higino Aires, participou na distribuição de panfletos e outras actividades clandestinas. Foi preso a 17 de Junho de 1959 acusado de pertencer ao Movimento para a Independência de Angola (MIA). Julgado num dos três processos do dito «Processo dos 50» por «crime contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta», foi sentenciado (02-12-1961) pelo Tribunal Militar Territorial de Angola a 21 meses de prisão (já cumpridos à data da sentença) e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos prorrogáveis. Foram essas medidas que justificaram o envio para o Tarrafal, onde chegou a 25-02-1962. Foi-lhe concedida liberdade condicional a 22-08-1964, regressando pouco tempo depois a Luanda, com residência fixa e obrigatoriedade de apresentação semanal (depois quinzenal) na PIDE, situação que só terminou após o 25 de Abril de 1974.

Carlos Aniceto Vieira Dias

Carlos Aniceto Vieira Dias
«Liceu» Nasceu a 01-05-1919 em Luanda (registado em Banana, na colónia belga do Congo). Empregado do Banco de Angola, fundou em 1947 o «N'Gola Ritmos», importante na recuperação do cancioneiro popular angolano (nomeadamente Kimbundu), criando ou recriando músicas, como a emblemática «Muxima», músicas que passavam uma mensagem anticolonial, em convívios públicos ou privados. A partir de 1958 participou activamente no grupo de Ilídio Machado e Higino Aires, sendo preso em 17-06-1959, acusado de pertencer ao Movimento para a Independência de Angola (MIA), num dos três processos do dito «Processo dos 50». Julgado por «crime contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (02-12-1961) pelo Tribunal Militar Territorial de Angola a 2 anos de prisão maior e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos prorrogáveis. Tendo já cumprido o tempo de prisão, continuou detido ao abrigo das medidas de segurança. Chegou ao Tarrafal a 25-02-1962. Foi libertado a 02-06-1969, regressando a Luanda, com residência fixa, em Junho de 1970.

Cassupa Sousa

Cassupa Sousa
Nasceu em Cassupa (Moxico) c. 1901, filho de Chona e de Nhatuama. Agricultor, tinha quase 70 anos quando foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido primeiramente no Moxico, foi levado mais tarde para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 10-10-1968) a 6 meses a 3 anos de medidas de segurança de internamento, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal no primeiro grupo de presos da UNITA a 08-08-1969. Com ele estavam também presos dois filhos, Colúvua Cassupa e Silva e Sousa. Saiu, em liberdade condicional, a 13-10-1971.

César da Silva Teixeira

«Pampilhosa» Nasceu em Chiengue (Bié) a 08-09-1927, filho de Cândido Teixeira e de Teresa Soares. Mecânico no Luso/Luena, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação etc. César Teixeira terá inclusivamente reparado armas da guerrilha. A PIDE referia-se à rede como um «poderoso comité político-subversivo terrorista» baseado no Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE e desmantelada a rede, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau (sul de Angola) enquanto os «mais perigosos» vão para o Tarrafal. Após prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Tarrafal a 14-03-1970 e foi um dos mais castigados, nomeadamente na dita «holandinha». Foi libertado a 01-05-1974 mas quis ficar em Cabo Verde.

César Pedro Caliengue

César Pedro Caliengue
Nasceu no Chinguar (Bié) a 15-11-1935. Estudou na Missão Congregacional da Chissamba, no Instituto Currie (Dondi) e no Colégio de S. Bento (Luso/Luena). Co-fundador da União Nacional para a Independência Total de Angola (Moxico 1966) aproveitou ser operador de locomotivas no Caminho-de-Ferro de Benguela para mobilizar e recolher informações. Em 1968 contribuiu para reorganizar a rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da UNITA, enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e munições. Segundo a PIDE, um «poderoso comité político-subversivo terrorista» daquele movimento clandestino, liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, em julho de 1969 são presos e a rede é desmantelada. A maioria segue para S. Nicolau (sul de Angola) mas os «mais perigosos» serão enviados para o Tarrafal, após algum tempo de prisão em Luanda. Um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Chiembele Rivinqui

Chiembele Rivinqui
Nasceu em Muxilinginge (Moxico) a 20-04-1928, filho de Sacurianga e de Nazanguilo. Agricultor, foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 10-10-1968) a 6 meses a 3 anos de medidas de segurança de internamento, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal com o primeiro grupo de presos da UNITA, a 08-08-1969. Saiu a 13-10-1971, em liberdade condicional.

Chipoia Magita

Chipoia Magita

Nasceu em Muachiava (Moxico) c. 1915, filho de Magita e de Chiungua. Agricultor, membro da aristocracia tradicional Cokwe daquela região e, como tal, tratado com atenção especial pelos presos que o acompanharam. Eram acusados de apoiar a luta da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) iniciada em 1966 no leste de Angola, passando informações e auxílio aos que estavam nas matas (comida, sabão etc.). Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (10-10-1968) a 6 meses a 3 anos de medidas de segurança de internamento, prorrogáveis. Chegou ao Tarrafal a 08-08-1969 com o primeiro grupo de presos da UNITA, onde vinha também o seu filho Maquinixe António. Diabético, a sua saúde deteriorou-se com os maus-tratos durante as prisões e as más condições do Campo. Faleceu no Hospital da Cidade da Praia a 13-05-1970, sendo o único preso angolano do Tarrafal a morrer em Cabo Verde.

Colúvua Cassupa

Colúvua Cassupa
Nascido em Cassupa-Suco (Moxico), filho de Cassupa Sousa e de Napito. Agricultor, tinha cerca de 34 anos quando foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 10-10-1968) a 20 meses de prisão, 500 dias de multa (que não podia pagar em dinheiro) e 6 meses a 3 anos de medidas de segurança, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 com o primeiro grupo de presos da UNITA, no qual se incluíam o seu pai Cassupa Sousa e o seu irmão Silva e Sousa. Saiu, em liberdade condicional, a 27-10-1973.

Daniel Samanda ou Daniel Cassoma

Nasceu no Bailundo (Huambo) a 05-05-1918, filho de Samanda e de Chassola. Agricultor, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Daniel Sonhi

Nasceu em Luxia-Sapombo, Buçaco (Moxico) em 1928, filho de Chico e de Nachipema. Agricultor, não estão claros o local e o motivo da prisão, nem a organização a que estaria ligado, mas o peso da sentença reflecte a condição de combatente na guerra de libertação contra o domínio colonial português. Julgado no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola, foi condenado (sentença 26-04-1969) a 20 anos de prisão maior, 20 meses de multa e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

Dava Benuhá

Dava Benuhá
Nasceu em Cassupa (Moxico), filho de Magina e de Itela. Agricultor, teria cerca de 45 anos quando foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 10-10-1968) a 20 meses de prisão acrescidos de 500 dias de multa (que não tinha como pagar em dinheiro) e 6 meses a 3 anos de medidas de segurança, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 com o primeiro grupo de presos da UNITA e saiu a 27-10-1973, em liberdade condicional.

Diogo José

Nasceu em Cassoneca (Icolo-e-Bengo) a 28-04-1929, filho de José Diogo e de Joana Cristóvão. Sem profissão declarada, o peso da sentença reflecte a condição de combatente na guerra de libertação contra o domínio colonial português, mas não foi possível esclarecer a que organização pertencia (MPLA ou UPA/FNLA, ambas actuando no norte de Angola). Foi capturado em data e local incertos e incluído no Processo-crime 57/67 (com Américo Adão, António Francisco e António Lamba). Julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola foi condenado (sentença de 23-10-1968) a 20 anos de prisão maior, 20 meses de multa (substituindo o pagamento em dinheiro), e medidas de segurança com internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

Domingos Manuel Coquita ou Domingos Manuel Cuquita

Nasceu em Quimassabi, Quitexe (Uíje) c. 1942, filho de Cuquita Buaqui e de Sofia Mucano. Agricultor, foi preso em data e local não identificados, por pertencer à União das Populações de Angola (UPA), desde 1962 integrada na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), movimento independentista que combatia no Norte de Angola. Foi julgado no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola e condenado (sentença de 01-05-1967) a 24 anos de prisão maior, 24 meses de multa, e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. O peso da sentença reflecte a condição de combatente na guerra de libertação contra o domínio colonial português. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

Eduardo Artur Santana Valentim

Eduardo Artur Santana Valentim
«Juca Valentim» Nasceu na Gabela (Kwanza-Sul) a 16-02-1945. Estudante de Engenharia, ex-controlador do Serviço de Aeronáutica Civil, foi co-fundador e coordenador do «Comité Regional de Luanda» (CRL), grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) com várias células, de estudantes e trabalhadores. Além da mobilização política e distribuição de panfletos, apoiavam a 1ª Região do MPLA com informações, roupa, medicamentos, sabão, munições… A PIDE infiltrou essa rede e em outubro de 1969 deteve Juca Valentim, seguindo-se dezenas de prisões. Depois dividiu-os: os brancos para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem julgamento, foram para S. Nicolau (sul de Angola) e os «mais perigosos» para o Tarrafal. Após meses de prisão em Luanda, foi-lhe aplicada «a medida administrativa de fixação de residência por dez anos em Cabo Verde» (Ministro do Ultramar 09-04-1970). Chegou ao Tarrafal a 14-05-1970 e a 24-11-1971 foi transferido sob prisão para Angola, com «fixação de residência» na Baía dos Tigres e, em 1972, em S. Nicolau, sujeito a trabalhos forçados.

Eduardo Jonatão Chingunji

Eduardo Jonatão Chingunji
Nasceu em Chiúca (Bié) a 07-01-1911. Professor primário formado nas Missões congregacionais, foi detido e interrogado pela PIDE em 25 de Junho de 1969 e formalmente acusado (Processo-crime nº 161/69), em julho, de ser o principal responsável de «um poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA» baseado na cidade do Luso/Luena. Essa rede clandestina, na qual a PIDE conseguira infiltrar-se, estendia-se ao longo do Caminho-de-ferro de Benguela e fornecia apoio logístico à UNITA, que desde 1966 actuava no leste, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro e alimentação. Além disso, dois dos seus filhos lutavam contra o exército português naquela organização: Samuel Piedoso Chingunji «Kapesi Kafundanga» e David Jonatão Chingunji «Samuimbila». Após algum tempo de prisão em Luanda, o Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe a fixação de residência «em Chão Bom», por 12 anos. A mulher, Violeta, também detida, foi deportada para o Campo de S. Nicolau com os filhos mais novos. Líder reconhecido do segundo grupo de presos da UNITA, chegou ao Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Eduardo Sá Moura da Cruz

Nasceu em Gumbe (Bié) a 30-10-1932, filho de Sá Moura da Cruz e de Emília Cavale. Contínuo do Banco de Angola, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Evaristo Armando

Nasceu em Chiumbo (Huambo) c. 1915, filho de Samuel e de Cassage. Empregado do Caminho-de-Ferro de Benguela, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Evaristo Miúdo ou Cristóvão Evaristo Mucuata

Evaristo Miúdo ou Cristóvão Evaristo Mucuata
Nasceu em Cassupa-Suco (Moxico) a 15-01-1945 [ou 24-09-1946], filho de Mucuata e de Nachitueno. Era afilhado de outro preso, Silva e Sousa. Sem profissão declarada, foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 10-10-1968) a 20 meses de prisão acrescidos de 500 dias de multa (que não tinha como pagar em dinheiro) e 6 meses a 3 anos de medidas de segurança, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 com o primeiro grupo de presos da UNITA e saiu a 27-10-1973, em liberdade condicional.

Febre Lunguiça ou Fabelo Malonguissa

Nasceu em Massavi, Macocola (Uíje) c. 1930, filho de Lunguiça e de Chimba. Agricultor, foi preso, em data e local não identificados, por pertencer à União das Populações de Angola (UPA), desde 1962 integrada na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), movimento independentista que combatia no Norte de Angola. Foi julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola e no Supremo Tribunal Militar e condenado (21-02-1967) a 23 anos de prisão maior, 23 meses de multa, e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. O peso da sentença reflecte a condição de combatente na guerra de libertação contra o domínio colonial português. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e ali, entre outras actividades, dedicava-se à produção artesanal de cestos e outros objectos. Foi libertado a 01-05-1974.

Felisberto Gongo Bernardo

Nasceu em Chiambi (Bié) a 19-10-1932, filho de Bernardo e de Dorina. Professor das escolas das Missões evangélicas congregacionais, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Fernando Coelho Cugito

Fernando Coelho Cugito
Nasceu em Calulo (Uíje) c. 1938, filho de Cugito e de Júlia Bomba. Agricultor, foi preso em data e local não identificados, por pertencer à União das Populações de Angola (UPA), desde 1962 integrada na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), movimento independentista que combatia no Norte de Angola. Acusado de participação na revolta de 15 de março de 1961, incluindo ataques a fazendas e povoações, foi julgado no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola (Processo nº 63/65) e condenado (sentença de 30-04-1966) a 3 anos e 8 meses de prisão maior, 6 meses de multa, e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 23-12-1971.

Fernando Moisés

Fernando Moisés
Nasceu em Sachipunga (Moxico) a 09-02-1919, filho de Macalacata e de Chiquembo. Alfaiate de profissão e catequista de uma igreja protestante, foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 10-10-1968) a 6 meses a 3 anos de medidas de segurança de internamento, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal no primeiro grupo de presos da UNITA a 08-08-1969 e saiu, em liberdade condicional, a 13-10-1971.

Fernando Pascoal Costa

Fernando Pascoal Costa
«Luzerna Pinto Mendes» Nasceu em Luanda a 02-06-1890. Factor telegrafista do Caminho-de-Ferro de Luanda, aposentado à data da prisão, 29 de março de 1959. Era o mais velho e tesoureiro do grupo independentista ELA, activo na clandestinidade desde o início dos anos 50, nomeadamente enviando documentos ao American Comittee on Africa e à Comissão das Curadorias da ONU. Em março de 1959, já associados ao grupo «Espalha Brasa», tentaram enviar para o Gana um «Relatório» sobre Angola (Pascoal da Costa, assinando «Luzerna Pinto Mendes», é o segundo subscritor). A detenção do mensageiro pela PIDE, no aeroporto, desencadeou as prisões que deram lugar aos processos judiciais (o dito «Processo dos 50»). O Tribunal Militar Territorial condenou-o (20-12-1960) a 9 anos de prisão maior e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 25-02-1962. Apesar da idade avançada e do «bom comportamento», recusavam libertá-lo por ser considerado «irrecuperável», sem «qualquer arrependimento». Finalmente, foi-lhe concedida liberdade condicional a 30 de abril de 1969. Saiu a 02-06-1969, regressando a Luanda.

Florêncio Gamaliel Gaspar

Florêncio Gamaliel Gaspar
Nasceu em Luanda a 15-03-1930, filho de Sebastião Gaspar Domingos, também preso no Tarrafal. Enfermeiro, foi preso pela PIDE a 20 de outubro de 1959, num dos processos judiciais vulgarmente conhecidos como «Processo dos 50». Do chamado «grupo dos enfermeiros» do clube recreativo «Espalha Brasa», foi acusado de pertencer ao «ELA», grupo activo na clandestinidade desde o início dos anos 50, com ligações a outros nacionalistas em Angola e no exterior e ao qual o «Espalha Brasa» se associara. Em março tentaram enviar ao Gana (via Congo) um «Relatório» sobre a situação em Angola, mas o portador foi detido pela PIDE no aeroporto, desencadeando as prisões. Julgado no Tribunal Militar Territorial (Processo nº 41/60) por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de associação ilícita e organização secreta», foi condenado (20-12-1960) a 4 anos de prisão e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 26-02-1962 e saiu em liberdade condicional com residência fixa em Luanda a 02-02-1969.

Francisco Caetano

Nasceu em Luanda a 05-12-1946, filho de Caetano Francisco e de Ana Afonso. Pescador e pintor, pertencia ao «Comité Regional de Luanda» (CRL) coordenado por Juca Valentim, grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) com várias células, sobretudo de estudantes, mas não só. Além do estudo e mobilização política e distribuição de panfletos, procuravam apoiar os guerrilheiros e populações da 1ª Região com informações e roupa, medicamentos, sabão, munições… A sua actividade preocupava a PIDE que infiltrou a rede e em outubro e novembro de 1969 fez dezenas de prisões. Depois dividiu-os: os brancos foram para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, foram enviados para S. Nicolau (sul de Angola) excepto os «mais perigosos», enviado para o Tarrafal. Após meses de prisão preventiva em Luanda, foi-lhe aplicada a medida administrativa de fixação de residência por 6 anos em Cabo Verde (despacho do Ministro do Ultramar de 09-04-1970). Chegou ao Tarrafal a 14-05-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Francisco Muto

Nasceu em Quibianza (Uíje), c. 1920, filho de Calumbo e de Sango Luca. Agricultor, foi preso em data e local não identificados, por pertencer à União das Populações de Angola (UPA), desde 1962 integrada na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), movimento independentista que combatia no Norte de Angola. Acusado de angariar fundos para a UPA desde 1960 e de participação na revolta de 15 de março de 1961, incluindo ataques a fazendas e povoações, foi julgado no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola (Processo nº 63/65) e condenado (30-04-1966) a 22 anos de prisão maior, 1 ano de multa, e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. O peso da sentença reflecte a condição de combatente na guerra de libertação contra o domínio colonial português. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

Gabriel Francisco Leitão Pereira

Gabriel Francisco Leitão Pereira
Nasceu em Luanda a 02-7-1928. Empregado comercial, muito ligado a actividades culturais como a música e o teatro (foi co-fundador e co-autor de peças do grupo teatral Gesto) que serviam muitas vezes de capa à consciencialização nacionalista. Animadas reuniões em sua casa incluíam o grupo musical Ngola Ritmos do seu camarada Aniceto Vieira Dias «Liceu» e também os marinheiros norte-americanos Barnett e Holder que levavam e traziam correspondência clandestina para vários grupos em Luanda. Acusado de pertencer ao Movimento para a Independência de Angola (MIA), num dos três processos do dito «Processo dos 50», foi julgado por «crime contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» e sentenciado (02-12-1961) pelo Tribunal Militar Territorial de Angola a 18 meses de prisão (já cumpridos à data da condenação) e a medidas de segurança com internamento de 6 meses a 3 anos, prorrogáveis. Foram essas medidas que justificaram o envio para o Tarrafal, onde chegou a 25-02-1962, sendo libertado a 02-12-1964, com fixação de residência em Luanda.

Garcia Lourenço Vaz Contreiras

Garcia Lourenço Vaz Contreiras
Nasceu em Catete a 8-10-1929. Enfermeiro em Luanda, morador no Bairro Rangel, criou em dezembro de 1958, com Mendes de Carvalho, Ventura e outros, o clube recreativo e desportivo (e político) «Espalha Brasa». Detido a 30 de março de 1959, posto em liberdade e novamente preso a 30 de outubro, num dos processos judiciais (o «dos enfermeiros») do dito «Processo dos 50». Foi acusado de pertencer ao «Grupo ELA», que tentou enviar para o Gana (via Congo-Léopoldville) um «Relatório» sobre a opressão colonial em Angola. Vaz Contreiras dactilografou e entregou essa correspondência para Armando da Conceição ao jovem José Manuel Lisboa, que a PIDE deteve no aeroporto de Luanda, originando sucessivas prisões. Julgado no Tribunal Militar Territorial de Angola por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de associação ilícita e organização secreta», foi sentenciado (20-12-1960) a 7 anos prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 26-02-1962 e saiu, em liberdade condicional com residência fixa em Luanda, a 19-11-1969.

Gilberto António Saraiva de Carvalho

Gilberto António Saraiva de Carvalho
Nasceu em Catete (Luanda) a 08-01-1942. Estudante e ex-alferes miliciano do exército colonial, pertencia ao «Comité Regional de Luanda» (CRL), grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) subdividido em várias células, sobretudo de estudantes. Além da mobilização política e distribuição de panfletos, enviavam para a 1ª Região informações e roupa, medicamentos, sabão, munições… A PIDE infiltrou a rede e nos finais de 1969 fez dezenas de prisões, dividindo-os: os brancos enviados para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, enviados para S. Nicolau (sul de Angola) excepto os «mais perigosos», enviados para o Tarrafal. Após meses em prisão preventiva em Luanda, foi-lhe aplicada a medida administrativa de fixação de residência por 8 anos em Cabo Verde (Ministro do Ultramar 09-04-1970). Chegou ao Tarrafal a 14-05-1970 e saiu a 05-07-1973, transferido «por decisão superior», para Angola, sob prisão, com pena de 3 anos de internamento em S. Nicolau (despacho do Governador-geral de 13-07-1973). Libertado após o 25 de Abril.

Hélder Guilherme Ferreira Neto

Hélder Guilherme Ferreira Neto
Nasceu em Luanda a 11-04-1939. Estudante do Liceu, foi preso em 15-07-1959, na vaga de prisões da PIDE que em Angola deu lugar aos processos judiciais vulgarmente conhecidos como «Processo dos 50». Colaborou com a Sociedade Cultural de Angola e juntou-se, através de Calazans Duarte, ao clandestino «Movimento de Libertação Nacional» (MLN) ou «Movimento de Libertação Nacional de Angola» (MLNA), nomeadamente auxiliando a distribuição de panfletos. Foi julgado no Tribunal Militar Territorial por «crime contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta». Por ser menor (menos de 21 anos) foi sentenciado (10-08-1960) a apenas 3 meses de prisão efectiva (já cumpridos à data da sentença) mas com medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Foram estas que o levaram ao Tarrafal, onde chegou a 25-02-1962. Foi libertado a 20-11-1963, com proibição de voltar a qualquer colónia portuguesa e residência fixa em Lisboa. Porém, saiu de Portugal em 1964 e integrou-se no Centro de Estudos Angolanos do MPLA em Argel.

Higino Aires Alves de Sousa

Higino Aires Alves de Sousa
Nasceu em Luanda (Angola) a 11-07-1926. Empregado comercial, reconhecido como fundamental na mobilização de muitos que se juntaram ao movimento nacionalista liderado por Ilídio Machado. Em 1959 recorreu a um americano-cubano Javier Hernandez, cozinheiro de um navio, para enviar correspondência para o exterior, mas a A PIDE interceptou a correspondência (para Viriato da Cruz, Matias Miguéis e Kwame Nrumah) e prendeu Hernandez, solto por intervenção do cônsul americano. Muitos elementos da rede de Higino foram presos, sendo ele próprio detido a 1 de Junho de 1959. Acusado de pertencer ao Movimento para a Independência de Angola (MIA), num dos três processos do dito «Processo dos 50», foi julgado por «crime contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» e sentenciado (02-12-1961) pelo Tribunal Militar Territorial de Angola a 3 anos e 9 meses de prisão maior e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 25-02-1962 e foi libertado a 14-11-1969 com residência fixa em Luanda.

Ilídio Tomé Alves Machado

Ilídio Tomé Alves Machado
Nasceu em Luanda (Angola) a 17-12-1914. Funcionário dos Correios, era um dos principais líderes do nacionalismo angolano na década 1950-1960. Co-fundador dos efémeros Partido Comunista Angolano e Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA), tentou no difícil contexto da clandestinidade uma coordenação dos grupos independentistas. Além da actividade panfletária no interior e da correspondência para o exterior denunciando a situação colonial, mantinha ligações com emigrados e exilados angolanos. Preso em Lisboa a 27-05-1959 (cadeia do Aljube), transferido para a Casa de Reclusão Militar (Luanda), foi acusado de pertencer ao Movimento para a Independência de Angola (MIA), num dos três processos do dito «Processo dos 50». Julgado por «crime contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (02-12-1961) pelo Tribunal Militar Territorial de Angola a 4 anos de prisão maior e medidas de segurança com internamento, prorrogáveis. Em 1960 o Comité Director do MPLA em Conakry designou Ilídio Machado, já detido, vice-presidente do presídio de honra do MPLA. Chegou ao Campo do Tarrafal a 26-02-1962 e saiu a 03-02-1965, com residência fixa em Luanda.

Jaime Gaspar Cohen

Jaime Gaspar Cohen
Nasceu em Novo Redondo (Kwanza-Sul) a 04-07-1948. Escriturário e estudante do Instituto Comercial de Luanda, pertencia à célula «Kimangua» do «Comité Regional de Luanda» (CRL), grupo clandestino do MPLA que, além da mobilização política, apoiava a 1ª Região (informações, roupa, medicamentos, sabão, munições…). A PIDE infiltrou essa rede de apoio e nos finais de 1969 fez dezenas de prisões. Depois dividiu-os: os brancos foram para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, para S. Nicolau (sul de Angola) excepto os «mais perigosos», enviados para o Tarrafal. Incorporado no exército português em janeiro de 1969, Cohen continuou a actividade clandestina, aproveitando o acesso a documentação militar, até à detenção pela PIDE (11-12-1969). Após meses de prisão, foi-lhe fixada residência por 6 anos em Cabo Verde (09-04-1970). Chegou ao Tarrafal a 14-05-1970 e saiu a 05-07-1973, transferido, sob prisão, para o Campo de S. Nicolau (sul de Angola) com pena de 3 anos de internamento (despacho de 13-07-1973). Libertado após o 25 de Abril.

Jeremias Pedro

Nasceu em Massumuna (Moxico) a 12-05-1939, filho de Muarilo e de Nabalaço. Agricultor, foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 10-10-1968) a 6 meses a 3 anos de medidas de segurança de internamento, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 com o primeiro grupo de presos da UNITA e saiu, em liberdade condicional, a 13-10-1971.

João Fialho da Costa

João Fialho da Costa
Nasceu em Ndalatando a 27-11-1929. Enfermeiro do Caminho-de-Ferro de Luanda, residente no Bairro Rangel, foi preso em 20 de outubro de 1959 na vaga de prisões da PIDE que deu lugar a três processos judiciais conhecidos como «Processo dos 50». Do chamado «grupo dos enfermeiros», foi levado por Mendes de Carvalho para o clube recreativo (e político) «Espalha Brasa», parte do qual se juntou ao «ELA», activo na clandestinidade desde o início dos anos 50, com ligações a outros nacionalistas em Angola e no exterior. Um «Relatório» sobre a situação em Angola, destinado ao Gana (via Congo-Léopoldville) cujo portador foi detido pela PIDE no aeroporto, desencadeou as prisões. Julgado no Tribunal Militar Territorial por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de associação ilícita e organização secreta» foi sentenciado (20-12-1960) a 3 anos e 6 meses de prisão e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 26-02-1962 e saiu (liberdade condicional e residência fixa em Luanda) a 03-02-1965.

João José Cauaua

«Sitokoka» Nasceu em Chinjoia (Bié) a 25-03-1930, filho de José Cauaua e de Dofilia Chipuco. Alfaiate de profissão, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

João Lopes Teixeira

João Lopes Teixeira
Nasceu na Funda a 20-05-1925. Electricista, morador no Bairro Indígena, era auxiliar de mecânico no Aeroporto de Luanda. Pertencia ao grupo recreativo (e politico) «Espalha Brasa». Em 1959, na vaga de prisões da PIDE que deu lugar aos três processos judiciais vulgarmente conhecidos como «Processo dos 50», foi detido a 2 de abril, solto e novamente preso a 20 de outubro, acusado de pertencer ao «ELA», grupo clandestino activo desde o início dos anos 50, com ligações a outros nacionalistas em Angola e no exterior. Em março tentaram enviar para o Gana (via Congo-Léopoldville) um «Relatório» sobre a opressão colonial em Angola, cujo portador foi detido pela PIDE no aeroporto, originando as prisões. Julgado no Tribunal Militar Territorial por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (20-12-1960) a 4 anos de prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 25-02-1962 e saiu, em liberdade condicional com residência fixa em Luanda, a 10-06-1969.

João Lucas Cupombe

Nasceu em Calumbo, Carmona (Uíje) c. 1928, filho de Catula e de Homa. Agricultor, foi preso, em data e local não identificados, por pertencer à União das Populações de Angola (UPA), desde 1962 integrada na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), movimento independentista que combatia no Norte de Angola. Acusado de participação na revolta de 15 de março de 1961, incluindo ataques a fazendas e povoações, foi julgado no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola (Processo nº 63/65) e condenado (30-04-1966) a 22 anos de prisão maior, 1 ano de multa, e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. O peso da sentença reflecte a condição de combatente na guerra de libertação contra o domínio colonial português. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

João Vissoca

Nasceu em Nova Sintra/Catabola (Bié) c. 1929, filho de Sangala e de Nachirombo. Alfaiate de profissão, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Joel Pessoa

Joel Pessoa
Nasceu em Gumba, Andulo (Bié) a 21-02-1935, filho de Pessoa e de Viqueia. Electricista, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso (Luena) e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe a «fixação de residência» em Chão Bom, Cabo Verde, por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

José Culuza ou Muteteleno

Nasceu no Luso/Luena (Moxico) c. 1936, filho de Sachimbale e de Nangamba. Alfaiate de profissão, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso (Luena) e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

José Diogo dos Santos

«Olim» Nasceu na Funda (Luanda) a 04-06-1939. Mecânico, residente no Bairro Indígena, já tinha sido referenciado pela PIDE em processos anteriores (1965), por ligações ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Terá estado detido no Campo prisional de S. Nicolau, no sul de Angola. Por despacho do Secretário-Geral de Angola de 9 de abril de 1968 foi-lhe «fixada residência» em Cabo Verde, no «Campo de Chão Bom» (Tarrafal), por 8 anos. Chegou ao Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

José Diogo Ventura

José Diogo Ventura

Nasceu em Malanje a 25-10-1929. Enfermeiro, residente no Bairro Marçal (Luanda), co-organizou o grupo recreativo e político «Espalha Brasa», depois associado ao «ELA», grupo mais antigo e com ligações a outros nacionalistas em Angola e no exterior. Um «Relatório» do ELA sobre a situação em Angola, destinado ao Gana (via Congo-Léopoldville) cujo portador foi detido pela PIDE no aeroporto, desencadeou a vaga de prisões que deu lugar aos processos judiciais conhecidos como «Processo dos 50». Do chamado «grupo dos enfermeiros», foi chamado à PIDE para declarações e por fim preso a 20 de outubro. Julgado no Tribunal Militar Territorial por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de associação ilícita e organização secreta» foi sentenciado (20-12-1960) a 4 anos de prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 25-02-1962 e saiu (liberdade condicional e residência fixa em Luanda) a 02-02-1969. Com ajuda de outros presos, estudou e foi fazer exames no Liceu da Praia.

Recordações minhas
Memórias
Autor: José Diogo Ventura
Edição: Kilombelombe, Luanda, 2011

José Fernando ou José Saguinda

Nasceu em Luso/Luena (Moxico) c. 1942, filho de Chiu e de Mugonga. Agricultor, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso (Luena) e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

José Manuel Lisboa

José Manuel Lisboa
Nasceu em Luanda a 23-03-1940 mas vivia com parentes no Congo-Léopoldville. Mecânico de automóveis, detido a 28 de março pela PIDE no aeroporto de Luanda, desencadeando a vaga de prisões da PIDE em 1959 que deu lugar aos processos judiciais conhecidos como «Processo dos 50». Foi acusado de cumplicidade com o «ELA», grupo clandestino activo desde o início dos anos 50, com ligações a outros nacionalistas em Angola e no exterior. Os dirigentes tentaram enviar para o Gana (via Armando da Conceição em Léopoldville/Kinshasa) um «Relatório» sobre a opressão colonial em Angola, sendo o jovem José Manuel Lisboa o portador. Alguém presente no «jantar de despedida» em casa de Bernardo de Sousa o denunciou à PIDE. Julgado no Tribunal Militar Territorial por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (20-12-1960) a 3 anos de prisão maior e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 25-02-1962 e saiu a 01-10-1966.

José Vieira Mateus da Graça

José Vieira Mateus da Graça

«Luandino Vieira» Nascido em Portugal a 04-05-1935, viveu em Luanda desde a infância, na fronteira entre «o asfalto» e «o musseque», experiência que marcaria profundamente a sua escrita e o seu posicionamento anticolonial. Empregado comercial e escritor, colaborou na «Sociedade Cultural de Angola» (SCA) de que a PIDE prendeu vários dirigentes em 1959. Detido e acusado de «distribuir panfletos», foi depois solto. Em 1961, novamente detido «por actividades contra a segurança do Estado» (ligação ao MPLA), recebeu do Tribunal Militar Territorial (22-07-1963) uma das mais pesadas sentenças para presos políticos não combatentes: 14 anos de prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 13-08-1964 e saiu a 15-06-1972, em liberdade condicional com residência fixa «na Metrópole». Reconhecidamente um dos maiores escritores angolanos, no Tarrafal redigiu muitos dos seus livros. Entretanto «Luuanda» (escrito na prisão em Angola) foi premiado pela Sociedade Portuguesa de Escritores (1965) levando ao encerramento forçado desta. 

Papéis da Prisão (1962-1971)
Memórias
Autor: José Luandino Vieira
Edição: Caminho, Lisboa, 2015
 

Justino Feltro da Costa Pinto de Andrade

Justino Feltro da Costa Pinto de Andrade
Nasceu em Calulo (Kwanza-Sul) a 16-01-1948. Estudante de Medicina, co-fundador e co-responsável (com o seu irmão Vicente e Juca Valentim) do «Comité Regional de Luanda» (CRL), grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) subdividido em várias células, sobretudo de estudantes mas incluindo também trabalhadores. Além do estudo e mobilização política, e distribuição de panfletos, procuravam apoiar os guerrilheiros e populações da 1ª Região com informações, roupa, medicamentos, sabão, munições… A PIDE infiltrou essa rede de apoio e em outubro e novembro de 1969 fez dezenas de prisões. Depois dividiu-os: os brancos foram para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, foram enviados para S. Nicolau (sul de Angola) excepto os «mais perigosos», enviados para o Tarrafal. Ficou em prisão preventiva na cadeia da PIDE em Luanda até abril de 1970, quando recebeu a medida administrativa de fixação de residência por 8 anos em Cabo Verde (Ministro do Ultramar 09-04-1970). Chegou ao Tarrafal a 14-05-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Lote Chivava Guilherme

Lote Chivava Guilherme
«Sachikwenda» Nasceu em Chipeta (Bié) a 28-09-1940. Após a escola primária na Missão Congregacional da Chissamba, foi para o Luso/Luena, para estudar e ter uma profissão. Carpinteiro, continuou os estudos e em 1964, já no ensino secundário, empregou-se nos Serviços de Fazenda e Contabilidade. Foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina de apoio à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), enviando-lhe roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação etc. Segundo a PIDE, um «poderoso comité político-subversivo terrorista» baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto os «mais perigosos» vão para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, o Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe a «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Lote Soares Sanguia

Lote Soares Sanguia
Nasceu em Vila Nova (Huambo) a 05-03-1938. Motorista da Junta Autónoma de Estradas, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69), um pouco depois dos seus camaradas porque trabalhava fora da cidade. Pertencia à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola no leste do país (roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e munições). Segundo a PIDE, um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados os seus elementos por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria segue para o Campo de S. Nicolau (sul de Angola) mas os «mais perigosos» serão enviados para o Tarrafal, após algum tempo de prisão em Luanda. Um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe a «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e saiu a 01-05-1974.

Manuel Baptista de Sousa ou Manuel Costa da Silva Nunes

Manuel Baptista de Sousa ou Manuel Costa da Silva Nunes
Nasceu em Malanje a 09-06-1932. Tipógrafo, foi preso pela PIDE a 20 de outubro de 1959, num dos processos judiciais vulgarmente conhecidos como «Processo dos 50», acusado de pertencer ao «ELA» (grupo activo na clandestinidade desde o início dos anos 50, com ligações a outros nacionalistas em Angola e no exterior). Terá sido através de Agostinho Mendes de Carvalho e do clube desportivo e recreativo «Espalha Brasa» que se associou aos «mais-velhos» do ELA. Em março tentaram enviar para o Gana um «Relatório» sobre a opressão colonial em Angola, cujo portador foi detido pela PIDE no aeroporto, o que originou sucessivas prisões. Julgado no Tribunal Militar Territorial de Angola por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta», foi sentenciado (20-12-1960) a 3 anos e 6 meses de prisão maior e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 25-02-1962 e saiu, com liberdade condicional por 2 anos e residência fixa em Luanda, a 28-01-1965.

Manuel Bernardo de Sousa

Manuel Bernardo de Sousa
Nasceu em Ndalatando a 01-08-1931. Enfermeiro em Luanda, trabalhara também numa fazenda nos Dembos. Levado em 1958 por Agostinho Mendes de Carvalho para o clube recreativo (e político) «Espalha Brasa», foi preso pela PIDE a 20 de outubro de 1959 e incluído num dos três processos judiciais conhecidos como «Processo dos 50», acusado de pertencer ao «Grupo ELA», activo na clandestinidade desde o início dos anos 50 e ao qual o «Espalha Brasa» se associara. Em março tentaram enviar ao Gana (via Congo) um «Relatório» sobre a situação em Angola, mas o mensageiro foi detido pela PIDE no aeroporto, desencadeando sucessivas prisões. O «jantar de despedida» fora organizado na casa de Bernardo de Sousa. Julgado no Tribunal Militar Territorial por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (20-12-1960) a 4 anos de prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 25-02-1962 e saiu em liberdade condicional a 02-02-1969, regressando a Luanda.

Manuel Chitombe

Nasceu em Camicundua (Bié) a 28-12-1929. Pedreiro de profissão, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso (Luena) e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou a Manuel Chitombe a «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Manuel dos Santos Júnior

Manuel dos Santos Júnior
«Capicua» Nasceu em Luanda a 30-09-1931. Electricista, morador no Bairro Indígena, ligou-se ao efémero Partido Comunista de Angola (1955) e, extinto este, seguiu em 1956 Ilídio Machado na formação do «Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola» (PLUAA). Dirigente do clube desportivo e recreativo «Botafogo», camuflagem para consciencialização política, em 1958 juntou-se ao «Movimento de Libertação Nacional» (de Veloso, Calazans Duarte e outros com ligações ao Partido Comunista Português). Activo na feitura e distribuição de panfletos do MLN, foi co-autor (com Contreiras da Costa) do panfleto «Ao mundo inteiro – Angola é dos Angolanos». Detido a 5 de agosto de 1959 na vaga de prisões da PIDE que deu lugar aos três processos judiciais vulgarmente conhecidos como «Processo dos 50», foi julgado no Tribunal Militar Territorial por «crime contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» e sentenciado (25-01-1961) a 4 anos de prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 26-02-1962 e foi libertado a 21-02-1970.

Manuel Pedro Pacavira

Manuel Pedro Pacavira
Nasceu no Golungo Alto (Kwanza-Norte) a 14-10-1939. Ali fez a escola primária na Missão Evangélica, frequentando o ensino secundário já em Luanda. Empregado de escritório, fazia parte do Movimento para a Independência Nacional de Angola (MINA) que reunia sobreviventes da vaga de prisões de 1959 e que em 1960 se integrou no MPLA sob a liderança de Agostinho Neto, sendo todos presos pela PIDE em meados desse ano. Antes, Pacavira fora enviado por Neto ao Congo-Brazzaville para contacto com os líderes do MPLA exilados em Conacry. De regresso a Luanda, foi detido em Junho e, sem nunca ter sido julgado, foi enviado para a Colónia Penal do Bié (1961), para o campo prisional do Missombo (1962) e de regresso à prisão em Luanda (1965). Libertado em 1967, foi preso novamente meses depois. Por despacho do Secretário-Geral de Angola (09-04-1968) foi-lhe fixada residência no Campo de «Chão Bom» (Tarrafal) por 12 anos. Chegou ao Tarrafal a 08-08-1969 e saiu a 01-05-1974. Escritor, considerava António Jacinto o seu «mestre literário» no Tarrafal.

Marcelo Micelo ou Misselo, ou Marcelo Kodo

Marcelo Micelo ou Misselo, ou Marcelo Kodo
Nasceu em Zola de Baixo, Belize (Cabinda) c. 1914. Trabalhador rural, tinha cerca de cinquenta anos quando decidiu, em 1964, fugir para o Congo-Kinshasa com a família. Cooptado pela União da Populações de Angola (UPA), participou em incursões e emboscadas à tropa portuguesa em Cabinda, deu informações e serviu de pisteiro e guia. Acusado de «crime contra a segurança do Estado», foi julgado em Luanda no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola e condenado (Acórdão de 20-04-1967) a 3 anos e 8 meses prisão maior, 3 meses e 15 dias de multa e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e saiu a 22-07-1972 em liberdade condicional, com residência fixa por 5 anos em Luanda ou Cabinda.

Mário António Soares de Campos

Mário António Soares de Campos
Nasceu em Luanda a 09-09-1931, onde era relojoeiro e oculista. Foi preso em 09-06-1959, libertado no mesmo dia e preso novamente dias depois, no âmbito da vaga de prisões da PIDE que em Angola deu lugar a três processos judiciais vulgarmente conhecidos como «Processo dos 50». Envolvido na distribuição clandestina de panfletos, foi acusado de pertencer ao «Movimento para a Independência de Angola» (MIA) e de ter cometido «crime contra a segurança exterior do estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta». Julgado no Tribunal Militar Territorial de Angola, foi sentenciado (02-12-1961) a 18 meses de prisão (já cumpridos à data da sentença), suspensão de todos os direitos políticos por 5 anos e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos prorrogáveis. Foi para cumprir as «medidas de segurança» enviado para o Campo de Chão Bom no Tarrafal, onde chegou a 25-02-1962 e de onde saiu em liberdade condicional com fixação de residência em Luanda a 11-09-1964.

Mário Jamba

Nasceu em Camacupa (Bié) a 30-01-1930, filho de Maliti e de Nanjamba. Condutor do Caminho-de-Ferro de Benguela, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso (Luena) e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em Chão Bom, Cabo Verde, por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Martins Sachela

Martins Sachela
Nasceu em Muassumuna ou Massumuna (Moxico), filho de Sachela e de Nachela. Agricultor, de cerca de 32 anos, foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 10-10-1968) a 6 meses a 3 anos de medidas de segurança de internamento, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal no primeiro grupo de presos da UNITA a 08-08-1969 e saiu, em liberdade condicional, a 13-10-1971.

Natanel Alfredo Sanecavo

Nasceu em Cateia (Bié) a 26-07-1934, filho de Alfredo Sanecavo e de Dofila Metopalo. Auxiliar de escritório, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69). Pertencia à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola no leste do país, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e munições. Segundo a PIDE, um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados os seus elementos por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria segue para o Campo de S. Nicolau (sul de Angola), mas os «mais perigosos» serão enviados para o Tarrafal, após algum tempo de prisão em Luanda. Um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe a «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Nobre Ferreira Pereira Dias

Nobre Ferreira Pereira Dias
Nasceu em Luanda a 02-12-1929. Professor e director da escola da Missão Metodista em Luanda. Através do Bispo Dodge enviou documentos ao cônsul americano em Lourenço Marques (Moçambique) que os faria chegar à Comissão das Curadorias da ONU. Detido a 20 de outubro de 1959, na vaga de prisões da PIDE que originou os processos judiciais conhecidos como «Processo dos 50», foi acusado de reuniões com os marinheiros norte-americanos Barnett e Holder e de pertencer ao «ELA», grupo clandestino com ligações a outros nacionalistas em Angola e no exterior. Este tentara em março enviar para o Gana (via Congo-Léopoldville) um «Relatório» sobre a opressão colonial em Angola, cujo portador a PIDE deteve no aeroporto. Julgado no Tribunal Militar Territorial por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi condenado (20-12-1960) a 7 anos de prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 26-02-1962 e saiu, com liberdade condicional e residência fixa em Benguela, a 19-11-1969.

Noé da Silva Saúde

Noé da Silva Saúde
«Balumuka Kababa» Nascido em Missoli, registado em Calomboloca a 10-06-1938. Da Juventude Metodista, Fernando Pascoal da Costa levou-o em 1956 ao ELA (grupo activo na clandestinidade desde o início dos anos 50), para ser tradutor de Inglês dos documentos clandestinamente enviados a personalidades internacionais e à Comissão das Curadorias da ONU. Com ele colaborou Deolinda Rodrigues, que seria indiciada no mesmo processo mas saíra de Angola meses antes. Em março de 1959 Noé subscreveu, como «Balumuka Kababa», um «Relatório» do ELA para o Gana sobre Angola, cujo portador foi detido pela PIDE no aeroporto, desencadeando sucessivas prisões. Foi preso a 20 de outubro de 1959, incluído nos processos judiciais vulgarmente conhecidos como «Processo dos 50». Paralelamente, Noé tivera ligações com o PLUAA. Julgado no Tribunal Militar Territorial por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» foi sentenciado (20-12-1960) a 6 anos de prisão e medidas de internamento. Chegou ao Tarrafal a 25-02-1962 e saiu em liberdade condicional a 7-02-1971, com residência fixa em Luanda.

Paiva Domingos da Silva

Paiva Domingos da Silva
«Cassica» Nasceu em Cassoneca (Luanda) a 02-03-1930. Carpinteiro de profissão, «herói do 4 de Fevereiro», terá sido mobilizado por Neves Bendinha para fazer parte dos grupos que na madrugada de 4 de fevereiro de 1961 atacaram as prisões de Luanda, visando libertar os presos políticos que ali se encontravam, acontecimento que em Angola marca o início da luta armada de libertação nacional. Capturado após aquela acção, passou por diversas prisões. Ainda em 1961 foi enviado para a Colónia Penal do Bié, em 1962 transitou para o recém-inaugurado Campo prisional do Missombo (Cuando Cubango), de onde foi novamente transferido para uma prisão em Luanda. Por fim, foi-lhe aplicada a medida administrativa de fixação de residência por 6 anos em Chão Bom, Cabo Verde, por despacho do Ministro do Ultramar de 9 de abril de 1970. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-05-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Pascoal Gomes de Carvalho Júnior

Pascoal Gomes de Carvalho Júnior
«Nzambe Kilumbo» Nasceu em Massangano a 10-01-1903. Funcionário dos Serviços de Saúde em Luanda, foi preso em 1959 na vaga de prisões da PIDE que deu lugar aos processos judiciais conhecidos como «Processo dos 50», acusado de pertencer ao «ELA», grupo clandestino activo desde o início dos anos 50, com ligações a outros nacionalistas em Angola e no exterior, ao qual se ligara em 1958 através de António Pedro Benge. Reproduziu num copiador manual documentos clandestinamente enviados para o exterior. Em março tentaram enviar para o Gana um «Relatório» sobre a opressão colonial em Angola (subscrito por Pascoal Gomes de Carvalho com o pseudónimo «Nzambe Kilumbo») cujo portador foi detido pela PIDE no aeroporto. Foi julgado no Tribunal Militar Territorial por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta» e sentenciado (20-12-1960) a 5 anos de prisão e medidas de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 26-02-1962 e saiu, em liberdade condicional com residência fixa em Luanda, a 27-04-1969.

Pedro Chimbinda Gonçalo

Nasceu em Sangonga, Bela Vista (Huambo) a 04-04-1924, filho de Gonçalo e de Emília. Dactilógrafo da Câmara Municipal do Luso/Luena, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista» daquele movimento clandestino, baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto os «mais perigosos» vão para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Sebastião Gaspar Domingos

Sebastião Gaspar Domingos
Nasceu em Cassoneca a 04-03-1899. Empregado comercial e cobrador, foi preso pela PIDE a 29 de março, solto e de novo preso a 20 de outubro, num dos processos judiciais vulgarmente conhecidos como «Processo dos 50». Foi acusado de pertencer ao «ELA», grupo clandestino activo desde o início dos anos 50, com ligações a outros nacionalistas em Angola e no exterior. Estes laços reforçaram-se numa ida de Sebastião Domingos ao Congo-Léopoldville em 1958. Em março de 1959, já associados ao grupo «Espalha Brasa», tentaram enviar para o Gana um «Relatório» sobre Angola. A detenção do mensageiro pela PIDE, no aeroporto, desencadeou a onda de prisões. Julgado no Tribunal Militar Territorial (Processo nº 41/60) por «conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta», foi sentenciado (20-12-1960) a 4 anos de prisão maior e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos. Chegou ao Tarrafal a 26-02-1962 e saiu em liberdade condicional a 06-12-1968, ficando com residência fixa em Luanda.

Silva e Sousa

Silva e Sousa
Nasceu em Cassupa-Suco (Moxico) a 14-09-1934, filho de Cassupa Sousa e de Nachicomo. Carpinteiro de profissão, foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 10-10-1968) a 2 anos de prisão (a pena mais pesada do seu grupo), 500 dias de multa (substituindo o pagamento em dinheiro) e medidas de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969, no primeiro grupo de presos da UNITA que incluía também o seu pai Cassupa Sousa, o seu irmão Colúvua Cassupa e um afilhado, Evaristo Miúdo. Saiu a 20-02-1973.

Silva Nunga ou Silva Ianja ou Silva Iandza

Nasceu em Banza Quica, Damba (Uíje) c. 1938, filho de Macuxambo e de Tuto. Como profissão está registado «Soba». Foi preso, em data e local não identificados, por pertencer à União das Populações de Angola (UPA), desde 1962 integrada na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), movimento independentista que combatia no Norte de Angola. Acusado de angariação de fundos e de participação na revolta de 15 de março de 1961, incluindo ataques a fazendas e povoações e emboscadas à tropa portuguesa, foi julgado no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola (Processo 118/65) e condenado (sentença de 28-05-1969) a 6 anos de prisão maior, 6 meses de multa, e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

Simão Chitungo

Simão Chitungo
Nasceu em aldeia Cassupa (Moxico) a 30-12-1939, filho de Sanjige Chitungo e de Epenha Mandona. Agricultor, foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi condenado (sentença de 10-10-1968) a 6 meses a 3 anos de medidas de segurança de internamento, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal no primeiro grupo de presos da UNITA a 08-08-1969 e saiu, em liberdade condicional, a 13-10-1971.

Sousa Alfredo ou Sousa Gomes

Nasceu em Cambeje, Vista Alegre (Uíje) a 12-04-1927, filho de Alfredo António e de Banda Paca. Agricultor, foi preso, em data e local não identificados, por pertencer à União das Populações de Angola (UPA), desde 1962 integrada na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), movimento independentista que combatia no Norte de Angola. Foi julgado no 2º Tribunal Militar Territorial de Angola e condenado (sentença de 01-05-1967) a 22 anos de prisão maior, 22 meses de multa, e medidas de segurança com internamento de 1 a 3 anos. O peso da sentença reflecte a condição de combatente na guerra de libertação contra o domínio colonial português. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

Teodoro Augusto Katikilo ou Teodoro Augusto Katikila

Nasceu em Mucumbe, Bailundo (Huambo) a 09-09-1925, filho de Augusto Paquisse e de Gueve. Catequista, preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso/Luena e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe «fixação de residência» em «Chão Bom, Cabo Verde», por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Teodoro Cassinque

Nasceu no Bailundo (Huambo) a 03-09-1943, filho de Avelino Chivangulula e de Nachipunda. Tendo indicada como profissão «contínuo», vivia na cidade do Lobito à data da prisão. Não foi possível esclarecer a sua filiação política ou pertença a algum dos outros grupos enviados para o Tarrafal. Foi julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola e condenado (sentença de 15-07-1969) a 5 anos de prisão maior e 6 meses a 3 anos de medidas de segurança com internamento. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969 e foi libertado a 01-05-1974.

Tiago Pedro

Nasceu em Chiumbo (Huambo) c. 1910, filho de Pedro e de Chitula. Pedreiro de profissão, foi preso pela PIDE em julho de 1969 (Processo-crime nº 161/69) por pertencer à rede clandestina que, a partir das cidades, vilas e aldeias, dava informações e apoio logístico à luta armada da União Nacional para a Independência Total de Angola, nomeadamente enviando roupa, medicamentos, dinheiro, alimentação, ferramentas e até munições. Segundo a PIDE, era um «poderoso comité político-subversivo terrorista do movimento clandestino UNITA», baseado na cidade do Luso (Luena) e liderado por Eduardo Jonatão Chingunji. Denunciados por um infiltrado da PIDE, a rede é desmantelada, a maioria dos seus membros é enviada para o Campo de S. Nicolau, no sul de Angola, enquanto um grupo «mais perigoso» vai para o Tarrafal. Após algum tempo de prisão em Luanda, um despacho do Secretário-Geral de Angola (26-08-1969) determinou-lhe a «fixação de residência» em Chão Bom, Cabo Verde, por 10 anos. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-03-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Tito Armando dos Santos

«Calhandro» Nasceu em Quindumbuela (Uíje) c. 1935. Alfaiate de profissão, pertencia ao «Comité Regional de Luanda» (CRL), grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) coordenado por Juca Valentim e subdividido em várias células, sobretudo de estudantes mas incluindo também trabalhadores. Além do estudo e mobilização política, e distribuição de panfletos, procuravam apoiar os guerrilheiros e populações da 1ª Região com informações, roupa, medicamentos, sabão, munições… A PIDE infiltrou essa rede de apoio e em outubro e novembro de 1969 fez dezenas de prisões. Depois dividiu-os: os brancos foram para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, foram enviados para S. Nicolau (sul de Angola) excepto os «mais perigosos», enviados para o Tarrafal. Após meses de prisão preventiva em Luanda, foi-lhe aplicada a medida administrativa de fixação de residência por 6 anos em Cabo Verde, por despacho do Ministro do Ultramar de 9 de abril de 1970. Chegou ao Campo do Tarrafal a 14-05-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Ventura António ou Maquinixe António

Ventura António ou Maquinixe António
Nasceu em Massumuna ou Muassumuma (Moxico) c. 1943, filho de Chipoia e de Mandania. Agricultor, de cerca de 25 anos, foi preso por ligações à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que em 1966 iniciara acções de guerrilha no leste de Angola. Ele e outros eram acusados de passar informações e auxílio (comida, sabão, medicamentos, sapatos…) aos que estavam nas matas. Detido no Moxico, foi levado para uma prisão no Lobito e, cerca de um ano depois, conduzido sob prisão para Luanda e julgado no 1º Tribunal Militar Territorial de Angola. Foi sentenciado (10-10-1968) a 6 meses a 3 anos de medidas de segurança de internamento, prorrogáveis. Chegou ao Campo do Tarrafal a 08-08-1969, com o primeiro grupo de presos da UNITA, cujo líder era o seu pai, Chipoia Magita. Este, diabético, não sobreviveu às más condições do Campo e falta de assistência adequada, falecendo no Hospital da Praia a 13-05-1970. Maquinixe não foi autorizado a ir ao enterro do pai. Foi libertado a 13-10-1971.

Vicente José da Costa Pinto de Andrade

Vicente José da Costa Pinto de Andrade
Nasceu em Calulo (Kwanza-Sul) a 18-01-1950. Estudante no Instituto Comercial, era um dos líderes do «Comité Regional de Luanda» (CRL) coordenado por Juca Valentim, grupo clandestino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), subdividido em várias células, sobretudo de estudantes, mas não só. Além da mobilização política e distribuição de panfletos, enviavam aos guerrilheiros da 1ª Região informações e também roupa, medicamentos, sabão, munições… A sua extensão e actividade preocupavam a PIDE que infiltrou a rede e em outubro e novembro de 1969 fez dezenas de prisões. Depois dividiu o grupo: os dois brancos foram para Lisboa, juntando-se aos que ali foram presos e julgados; os negros e mestiços, sem qualquer julgamento, foram enviados para S. Nicolau (sul de Angola) excepto um pequeno grupo, «mais perigoso», enviado para o Tarrafal. Vicente ficou em prisão preventiva até abril de 1970, quando lhe foi aplicada a medida administrativa de fixação de residência por 8 anos em Cabo Verde (Ministro do Ultramar, 09-04-1970). Chegou ao Tarrafal a 14-05-1970 e foi libertado a 01-05-1974.

Abdulai Canté

Nasceu em Bolama, em 1915 (?). Muçulmano, casado e pai de cinco filhos, sabendo assinar o nome, lavrador, alferes de 2ª linha e regedor de Bolama. Aderiu ao Partido Africano da Independência (P.A.I., antecessor do PAIGC) em maio de 1962, sendo preso pouco depois pelos Serviços Militares, a 18 de julho. Levado primeiro para Tite e depois para a Ilha das Galinhas, foi seguidamente enviado para o Tarrafal, onde deu entrada a 4 de setembro do mesmo ano. Considerado «perigoso e irrecuperável» em relatórios de 1964 e 1965, em outubro de 1968, o Diretor do Campo de Chão Bom, Eduardo Vieira Fontes, atesta o seu «bom comportamento prisional» e considera-o «reabilitado para meio isento se subversão», não devendo constituir perigo o seu regresso à Guiné, «desde que mantido em zona não afetada pelo terrorismo». Regressou à Guiné no vapor Uíge, em 30 de setembro de 1969.

Adolfo António da Costa

Nasceu em Cacheu, a 1 de maio de 1940. Manjaco, católico, estudante da Escola Técnica de Enfermagem, com o 2º grau, foi incorporado pelos Serviços Militares como 1º Cabo em 1961, e aderiu ao PAIGCV em 1962. Informado pelo Chefe de Serviço de Segurança Militar que iria ser preso, desertou em março de 1962, mas foi preso pela PIDE a 27 de junho, na área de Binar. Levado para a sede da PIDE em Bissau foi transferido para a Ilha das Galinhas em 1 de setembro e enviado no dia seguinte para o Tarrafal. Considerado «indivíduo evoluído e com tendência à indisciplina (…) absolutamente irrecuperável», permanece no Tarrafal até 1969, saindo com o ultimo grupo a regressar à Guiné. Em outubro de 1968, o diretor do Campo, Eduardo Vieira Fontes, declarara que «Não se considera reabilitado e constitui perigo para a sociedade o seu regresso àGuiné, especialmente na presente conjuntura».

Agnelo Lourenço Fernandes

Agnelo Lourenço Fernandes
Nasceu em Geba. Conheceu Amílcar Cabral quando este ali esteve como engenheiro. Agricultor, Produtor  de cana-de-açúcar, foi militante das primeiras horas do PAIGC. Seria preso em 1962, com quase todos os homens de Geba, como retaliação pela morte de um agente da PIDE no decorrer de um assalto à povoação em busca de militantes clandestinos. Deportado para o Campo de Concentração do Tarrafal em 1962, disseram à mãe que tinha sido morto. Só depois de vários meses no Campo foi autorizado a escrever à família, tendo a mãe reconhecido a letra. Sairia em 1964.

Ahnadjam Ié ou Ahna Jam

Natural de Biombo, de etnia Papel. Preso em Empada pelos Serviços Militares a 28 de junho de 1962 por «suspeitas de ter tomado parte na morte de um motorista europeu – Januário Simões Marcelino – e em cuja camioneta seguia com outros nativos, entre os quais os também detidos Marco Gomes e Luís António Silva». Deu entrada no Tarrafal a 4 de setembro de 1962.

Ansumane Seide

«Imbande Seide» Nasceu em Bissau, em 1925 (?). De etnia Mandinga, muçulmano, casado «segundo os usos e costumes», analfabeto, empregado comercial da firma António Silva Gouveia, em Geba. Aderiu ao PAIGC no início de 1962. Preso pelos Serviços Militares a 27 de junho de 1962, em Geba, deu entrada no Tarrafal a 4 de setembro. Nesse mesmo ano morreram-lhe a mulher e o filho. Considerado com «bom comportamento prisional» e «reabilitado para meio isento de subversão», ao pedir a sua libertação em dezembro de 1968 declara que «deseja continuar cidadão português». Regressa à Guiné em 1969.

António Ilídio Lima Silves Ferreira

Nasceu na Freguesia de S. Nicolau Tolentino, S. Domingos, Cabo Verde, a 06-11-1930, mas foi anda criança para a Guiné. Fez a 4ª classe em Mansoa e o curso de Prático Agrícola – equivalente ao 2º ano – na Escola Prática de Agricultura D. Dinis, na Paiã, Odivelas, Portugal. Regressou à Guiné em 1958, para estagiar na Brigada Hidráulica da Guiné, na Fazenda Experimental de Fã. Católico, solteiro, foi contratado como capataz-chefe dos Serviços Agrícolas da Fazenda em agosto de 1961. Aderiu ao PAIGC em 3 de fevereiro de 1962, aliciando alguns camaradas para o partido, mas foi preso pela PIDE pouco depois, a 25 de abril. Enviado para o Tarrafal, ali deu entrada em setembro de 1964. Considerado reabilitado em outubro de 1968, regressou à Guiné em 1969.

António Lopes

«Junco Banora»

Aristides Teodorico Barbosa

«Chaló» Nasceu em Bafatá a 19 de março de 1939. Com a 4ª classe, católico, solteiro e empregado comercial, era 1º cabo do Exército quando foi preso, a 18-07-1962, acusado de ligações ao P.A.I. Em 1964 foi avaliado como «indivíduo evoluído e com tendência à indisciplina», «convicto nas suas ideias de separação da Guiné da Mãe Pátria», não «susceptível de recuperação». Em outubro de 1968, o diretor do Campo de Chão Bom, Eduardo Vieira Fontes, informava que Aristides Barbosa tinha «mau comportamento prisional», tendo sofrido «cinco sanções disciplinares» e considerava não ter diminuído o seu grau de perigosidade, sendo «de todo inconveniente o seu regresso à Guiné nas presentes circunstâncias». Ainda assim, integra o grupo de guineenses que deixa o Tarrafal em 69. Em 1971 parte para Conacri, onde é preso pelo PAIGC em junho de 1972. Significativamente, dois dias antes de ser assassinado, Cabral escreveu para um camarada: «Momo, Bassiro e Aristides Barbosa agiram como oportunistas e ambiciosos que não tem qualquer respeito pela obra que o Partido já fez mas querem aproveitar-se dela para se servirem». Acusado de ser um dos organizadores do assassinato de Cabral, a 20 de janeiro de 1973, é condenado à morte em Lugadjole por uma subcomissão do PAIGC presidida por Fidelis Almada e fuzilado.

Armando Alge Sanhá

Nasceu em Bissau, a 16 de fevereiro de 1935. Muçulmano, de etnia Mandinga, motorista da Guarda Fiscal, com o 2º grau de instrução, filiou-se no P.A.I. em setembro de 1961 e foi preso pela PIDE em 12 de abril de 1962, deu entrada no Tarrafal a 4 de setembro do mesmo ano. Declarou-se arrependido por mais de uma vez. Considerado bem comportado, foi punido a 28 de janeiro de 1966 com 3 dias de prisão na cela disciplinar a pão e água e proibição de receber e expedir correspondência durante um mês, por agressão a um companheiro. Regressou à Guiné em1969.

Armando António Oliveira Sanca

Armando Lassana Jaquité

Nasceu a 11 de agosto de 1932 em Nova Lamego. De etnia Mandinga Mori, muçulmano, com a 3ª classe, casado «segundo os usos e costumes», pai de três filhos, alfaiate em Gabu, foi preso pelos Serviços Militares de Nova Lamego, em 24 de junho de 1962, acusado de ligação ao P.A.I. Deu entrada no Tarrafal a 4 de setembro do mesmo ano. Em 1968, o Director refere ter «bom comportamento prisional», ser «bom alfaiate» e ter «prestado muito serviço, remunerado, dentro da sua profissão». Considera-o «reabilitado». Regressa à Guiné em 1969.

Assumane Seldente ouAnsu Mana Seyde

Augusto Amadú Baldé

Augusto Fonseca da Silva

Nasceu em Bissorã, a 3 de fevereiro de 1936.Católico, solteiro, com o 2º garu da instrução. Aderiu ao PAIGC em dezembro de 1960. Preso a 19 de julho de 1962, quando se encontrava a prestar serviço militar no posto de 1º Cabo do Exército, adido no Centro de Instrução Militar de Bolama. Enviado primeiro para Tite, depois para o Quartel-general em Bissau, integrou o grupo de 100 presos guineenses que deu entrada no Tarrafal a 4 de setembro de 1962. Considerado «indivíduo já evoluído e com forte tendência para a indisciplina» e, apesar de ter «bom comportamento», visto como «perigoso» e «irrecuperável». Regressa à Guiné em 1969.

Augusto Mango Fernandes

Augusto Pereira da Graça

Augusto Pereira da Graça
«Neco» Nasceu em Farim, Guiné, a 5 de agosto de 1939. Filho de um cabo-verdiano, conheceu Amílcar Cabral em Bissorã. Católico, com o 2º grau de instrução, auxiliar radiotelegrafista dos CTT de Bissau, integrou o PAIGC a 13 de julho de 1959. Responsável pela mobilização no Norte e Leste, foi preso pelos Serviços Militares de Nova Lamego, em 27 de junho de 1962, na sequência de um encontro com dirigentes do partido em Bafatá. Depois de três ameaças de fuzilamento, fez parte do grupo de 100 presos enviados para o Tarrafal, onde chegaram a 4 de setembro. Poucos dias depois morreram dois desses presos: «Eram de idade muito avançada e não aguentaram. (…) Um morreu no dia 12 e o outro no dia 24 de setembro». A libertação deu-se em 3 levas: 1965, 1967, 1969. Augusto saiu na última. No regresso à Guiné, foram libertados e reintegrados no trabalho. Em dezembro de 1972 foi para Conacry. Após a independência, foi secretário-geral do Ministério da Juventude, Cultura e Desportos, passando depois para o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Augusto Tavares

Benjamim José Pedro de Barros

Bernardo Mango

Nasceu a 1 de janeiro de 1932, em Bula. De etnia Mancanha, com o 2º grau de instrução, casado, pai de seis filhos. Professor catequista católico, foi preso em Empada a 29 de junho de 1962, enviado para Tite e, em setembro, para o Tarrafal. Em 1965, acusado de «mau comportamento, atitudes e indisciplina, desobediência e rebeldia» – alegadamente por ter protestado pelo diferente tratamento prisional dado a guineenses e angolanos – foi encerrado numa minúscula cela disciplinar (a «holandinha»), extremamente quente e onde tinha de permanecer curvado. Segundo os companheiros, o tempo ali passado traumatizou-o e, ao voltar ao regime normal, quase não falava, permanecendo a maior parte do tempo isolado. Os responsáveis pelo campo desconfiaram de uma simulação, mas vieram a admitir que «sofria de ‘acentuadas perturbações neuropsíquicas’». No final de 1966, o então director escreveu: «Trata-se de um doente mental, segundo opinião médica. Entendo que deverá ser repatriado». Regressou à Guiné em 1969, morrendo pouco depois. Os seus companheiros de prisão invocam o castigo na «holandinha» para a sua morte precoce.

Betagueda Nhacé

Biaba Nabué

Biaba Nabué
Natural de Samba-Silate, no Centro da Guiné, Região de Bafatá, Sector de Bambadica, fez parte do grupo de 100 presos guineenses que, depois de uma passagem pela prisão da Ilha das Galinhas, foi transferido, a bordo do navio «África Ocidental», para o Campo de Concentração do Tarrafal (que passou a ser denominado «Campo de Trabalho de Chão Bom» na Portaria n.º 18 539, de 17-06-1961, assinada pelo ministro do Ultramar, Adriano Moreira) Biaba Nabué chegou ao Tarrafal em 4 de setembro de 1962. Amontoado com outros presos numa sala de tamanho insuficiente, sem recreio, sem possibilidade de tomar banho, morreu a 24 de novembro de 1962. Tinha 45 anos.  A fotografia que aqui se reproduz terá sido realizada no Batalhão de Caçadores n.º 238, uma das unidades militares que participaram, com a PIDE, na grande repressão de 1962, realizada contra o PAIGC.

Bilatá Nampara

Boaventura Correia

«Sitafá» Nasceu a 1 de janeiro de 1920, em Geba. De etnia Biafada, católico, «casado segundo os usos e costumes», pai de 8 filhos, analfabeto, carpinteiro. Aderiu ao PAI em fevereiro de 1962 e foi preso por militares de Bafatá, em Geba, a 27 de junho. Enviado para o Tarrafal no grupo de 100 presos guineenses que ali chegam a 4 de setembro do mesmo ano. Com «bom comportamento prisional», é considerado pelos responsáveis do campo como «reabilitado», havendo a convicção de que está seriamente arrependido. Regressa à Guiné em1969.

Braima Jassi

Bruno Dantas Pereira

Cândido Joaquim da Costa

Cândido Joaquim da Costa
Nasceu em Bolama a 8 de março de 1937. De etnia Manjaco, católico, com o 2º grau, casado e pai de uma filha, professor catequista na Missão Católica de Bolama. Aderiu ao P.A.I. em 27-01-1961. Preso pela tropa a 07-07-1962, na tabanca de Unale, Fulacunda, levado para Tite e depois para a Ilha das Galinhas, é deportado para o Tarrafal em setembro. Regressou à Guiné em 1969, tendo tido de assinar um documento declarando-se «arrependido dos actos praticados contra a segurança do Estado». Em Bissau abriu uma escola particular, dando aulas de manhã a crianças, à tarde a jovens, à noite a adultos. Sete meses depois, foi de novo preso e espancado. Libertado ao fim de três meses, conseguiu fugir para uma das zonas libertadas pelo PAIGC, Sara. Após a independência foi responsável do tribunal regional do Oio, de onde saiu por se recusar a mandar fuzilar algumas pessoas. Nomeado administrador de sector em 1988, desempenhou o cargo até 1999. Reformou-se após a vitória de Kumba Ialá.

Cândido José da Costa

«Cardeal»

Caramó Sanhá

Caramó Sanhá
Nasceu em1935, na povoação de Missina, região de Quinara, sector de Empada. Aderiu ao PAIGC em 1959, em Bissau. Muçulmano, foi professor na Escola Católica. Preso por militares a 30 de julho de 1961, na zona de Empada, e levado para Buba, Tite, foi interrogado com grande violência. Cerca de um mês depois, foi levado para a Ilha das Galinhas e, em setembro de 1962, enviado para o Tarrafal. Aproveitou o tempo para estudar, continuando a praticar a sua fé: «Havia lá um padre, do Tarrafal, que ia fazer culto. Nós, muçulmanos, participávamos sem problemas». Integrou o primeiro grupo a regressar à Guiné, em 29 de julho de 1964, mantendo a ligação ao PAIGC. Nunca se arrependeu: «Graças à luta do PAIGC, à unidade Guiné e Cabo Verde (…) os nossos dois países tornaram-se independentes (…). Tenho orgulho nisso, saber que os meus filhos, os meus netos, podem dizer que o pai, o avô deles esteve no Tarrafal por causa da independência da Guiné».

Carlos Alberto Moreira da Rocha

Nasceu em 26 de novembro de 1941, em Bambadinca, concelho de Bafatá. Católico, solteiro, com a 4ª classe, escriturário de 3ª classe na circunscrição de S. Domingos. Filiou-se em janeiro de 1962 no Movimento de Libertação da Guiné (MLG), de Vicente Có. Detido pelos Serviços Militares em S. Domingos a 29-07-1962. Deu entrada no Tarrafal a 4 de setembro desse ano. Descrito como «nervoso e inconstante», «evoluído e com tendência à indisciplina», «convicto nas suas ideias politicas e insusceptível de recuperação», o seu comportamento prisional é classificado como «regular». Voltou à Guiné em 1969.

Carlos Sambu

Carlos Sambu
Nasceu em Mansoa a 5 de março de 1936 (?) De etnia Mansoanca, muçulmano, lavrador, com a 2ª classe, casado e pai de três filhos. Mobilizado por Sancum Cissé, da rede de Rafael Barbosa, aderiu ao PAIGC em fevereiro de 1962. Preso pela PIDE em 18 de março, na tabanca de Mancalan, foi torturado na Segunda Esquadra, em Bissau. Enviado para a Ilha das Galinhas seguiu, depois, para o Tarrafal: «Na fase inicial, não tínhamos sequer recreio. (…) Começámos a inchar, e morreram dois de nós – Cutubo Cassamá e Biaba Na Abué». Depois disso passaram a ter recreio e foi-lhes distribuída mancarra. Com o estômago enfraquecido pela tortura, Carlos Sambu «só comia batata e cinco litros de leite por dia». Trabalhou como pintor em obras no interior do campo e integrou, com outros presos guineenses, o COMUSSA – Conjunto Musical do Sentimento Africano – tocando tumba. Em 1964 é descrito como tendo «bom comportamento», mas «absolutamente irrecuperável». Regressa à Guiné em 1969. Após a independência, trabalhou na Polícia, em Mansoa. Dedicou-se depois ao cultivo de caju.

Constantino Lopes da Costa

«Amado Ferrel» Nasceu em Ponta do Inglês, Guiné-Bissau, a 11 de março de 1938. De etnia Papel, católico, solteiro, com o 2º ciclo liceal, funcionário aduaneiro. Aderiu ao P.A.I. em outubro de 1961, trabalhando na mobilização com Rafael Barbosa. Preso a 15 de março de 1962, passou pela Segunda Esquadra, em Bissau, e pela prisão de Mansoa. Chegou ao Tarrafal num grupo de cem pessoas, a 4 de setembro de 1962. Uma oferta da Cruz Vermelha permitiu criar uma pequena biblioteca no Campo e requisitarem livros para ler. Quase todos aproveitaram para estudar, mas os angolanos foram autorizados a fazer exames, os guineenses não: «O trato não era igual». Reenviado para a Guiné em 1969, nunca foi julgado: «No dia 3 de agosto de 1969, levaram-nos para o palácio, onde estava o governador Spínola, fizeram-nos um discurso, e pronto, ‘estão livres’». Eu era funcionário das Alfândegas, não me reintegraram e fui trabalhar para as Finanças». Depois da independência serviu na carreira diplomática. Foi embaixador da Guiné-Bissau em Lisboa.

Cristiano Monteiro

Nasceu em Cacheu, a 20 de outubro de 1927. De etnia Balanta, católico, sabendo ler e escrever, carpinteiro, casado «segundo os usos e costumes», pai de cinco filhos. Aderiu ao P.A.I a 18-04-1962. Preso pelos Serviços Militares em Susana, circunscrição de S. Domingos, a 30 de julho de 1962, dá entrada no Tarrafal a 4 de setembro desse ano. Solicita por diversas vezes a sua libertação. Considerado como tendo «bom comportamento prisional» e «bom carpinteiro», «reabilitado para levar vida honesta em liberdade», não representando perigo «o seu reingresso na sociedade». Regressa à Guiné em 1969, após 7 anos no Tarrafal…

Cutubo Cassamá

Cotubo Cassamá
Data aproximada da primeira prisão 1962 Natural do Norte da Guiné, sector de Bissorã, secção de Binar, fez parte do grupo de 100 presos guineenses que, depois de uma passagem pela prisão da Ilha das Galinhas, foi transferido, a bordo do navio «África Ocidental», para o Campo de Concentração do Tarrafal (que passou a ser denominado «Campo de Trabalho de Chão Bom» na Portaria n.º 18 539, de 17-06-1961, assinada pelo ministro do Ultramar, Adriano Moreira). Cotubo Cassamá chegou ao Tarrafal a 4 de setembro de 1962. Amontoado com outros presos numa sala de tamanho insuficiente, sem recreio, sem possibilidade de tomar banho, morreu escassos dois meses depois da chegada ao campo, a 12 de novembro de 1962, com 54 anos.

Djandjam Sambú

Domingos Fernandes Badinca

Nasceu em Bolama, a 1 de janeiro de 1937. De etnia Mancanha, católico, solteiro, com o 2º grau de instrução, auxiliar de fundidor de «monotype» da Imprensa Nacional. Aderiu ao P.A.I. em março de 1962, e foi preso pelos Serviços Militares de Tite, pouco depois, a 18 de julho, Entrou no Tarrafal a 4 de setembro do mesmo ano. Embora lhe seja atribuído «bom comportamento prisional», é considerado «um convicto terrorista», não «reabilitado», podendo «constituir perigo para a sociedade o seu regresso à Guiné na actual conjuntura». Regressa à Guiné em 1969.

Domingos Gomes

Nasceu em Bolama a 11 de novembro de 1932. De etnia Mancanha, católico, solteiro, com o 2ºgrau de instrução, auxiliar de encadernação na Imprensa Nacional. Filiado no P.A.I. desde 1960, foi preso a 18 de julho de 1962, no seu local de trabalho, transferido para Tite e deportado para o Tarrafal em setembro desse ano. Embora lhe seja atribuído «Bom comportamento prisional», não é considerado «reabilitado», «constituindo perigo para a sociedade o seu regresso à Guiné». Regressa em 1969.

Domingos Mango

Nasceu em Bolama, em 1931 (?). Alfaiate. Aderiu ao P.A.I. em março de 1962 e foi preso pelos Serviços Militares em Empada, em 29 de junho. Passou por Tite e pela Ilha das Galinhas e chegou ao Tarrafal em 4 de setembro do mesmo ano. Visto como tendo «bom comportamento» e «susceptível de vir a recuperar-se». Regressa à Guine em 1969.

Domingos Mendes Gonçalves

Eleutério José da Silva

Nasceu em Bolama, a 20 de fevereiro de 1932. De etnia Papel, católico, solteiro, com a 4ª classe, enfermeiro dos Serviços de Saúde. Aderiu ao P.A.I. em 1961. Detido pelos Serviços Militares em Canhamina, a 1 de julho de 1962, dá entrada no Tarrafal a 4 de setembro do mesmo ano. Classificado com «comportamento regular», em 1968 é descrito como «não reabilitado e constitui perigo para a sociedade o seu regresso à Guiné». Regressa em 1969.

Estevão Adriano Fernandes

Nasceu em Bissau, a 10 de abril de 1932. De etnia Papel, segue a religião protestante. Pai de 2 filhos, com o 2º grau de instrução, microscopista na Missão de Combate à Tripanossomíase. Aderiu ao P-A.I. em dezembro de 1961, foi preso pela PIDE em Mansoa, em 18 de março seguinte e enviado para o Tarrafal em setembro de 1962. Em 1968, o diretor do Tarrafal refere a sua reabilitação e o seu «bom comportamento prisional», e acrescenta: «Tem prestado muito boa colaboração nas obras do Campo de Trabalho, sendo um razoável carpinteiro. É respeitador e disciplinado». Regressa à Guiné em 1969.

Eustáquio da Silva Correia

«Corrona» Nasceu em Bolama a 20 de setembro de 1938. De etnia Papel, católico, solteiro, com o 2ºgrau de instrução, condutor-auto, era 1º cabo do Exército à data da prisão pelos Serviços Militares, em Bolama, a 18 de julho de 1962. Entrou no Tarrafal a 4 de setembro seguinte. O seu comportamento prisional foi classificado de «regular», mas uma informação de 1968 diz que, «depois de alguns anos de atitudes que denotavam absoluto nervosismo, passou a comportar-se como alienado mental. Em 1967, o clínico assistente do Campo de Trabalho foi de parecer que se tratava de um caso de «simulação». No corrente ano, outro clínico assistente foi de parecer que se trata de um doente mental, com períodos mais ou menos lúcidos, razão por que se decidiu isolá-lo dos companheiros, que passaram a receá-lo». Regressou à Guiné em 1969.

Fernando Correia

Fernando Correia
Nasceu em Bissau, a 14 de novembro de 1936. De etnia Papel, católico, solteiro, com o 2º grau, empregado comercial. Estudante no Liceu Honório Barreto, em Bissau, foi mobilizado por Rafael Barbosa e Justado Lopes. Em 1958, após a independência da Guiné-Conacri, fez ali formação político-militar, voltando à Guiné-Bissau para assumir o comando da Frente de Biambi-Binar (Bula). Preso pela PIDE em 27 de junho de 1962, passou seis meses na 2ª Esquadra, em Bissau e foi enviado para o Tarrafal em setembro. Normalmente com «bom comportamento», em 12-10-1968 «sofreu uma sanção disciplinar por desobediência a um guarda», mas foi considerado que o seu regresso à Guiné não representaria perigo social. De volta à Guiné, em 1969, foi colocado na Companhia Ultramarina, onde anteriormente trabalhara, até à independência, ficando sem trabalho quando ela acabou: «Os portugueses disseram que nos iam indemnizar pelo tempo que estivemos presos - sete anos e oito meses – e que isso ia contar em dobro. Mas isso não aconteceu». Morreu em março de 2010.

Finhane Tambá

Fonte Nandjula ou Fonte Najula

Nasceu em Injassane, em 1942 (?). De etnia Balanta, ateu, analfabeto, solteiro, lavrador. Filiado no P.A.I.. Detido pelos Serviços Militares em Códie, a 25 de julho de 1962, levado para Bafatá, transferido para o Tarrafal em setembro. Considerado com «bom comportamento prisional», mas «pouco susceptivel de recuperação». Regressa à Guiné em 1969.

Francisco Gomes

«Chico de Iarecunda»

Francisco Gomes Dias

«Chico Dias» Nasceu em Bafatá, a 27 de agosto de 1937. De etnia Biafada, católico, com o 2º grau de instrução, com um filho, empregado público – encarregado do celeiro da Administração em Gabu. Filiado no P.A.I. em dezembro de 1961, mantém correspondência com dirigentes do Movimento. Preso pelos Serviços Militares a 27 de junho de 1962, em Nova Lamego, chega em 4 de setembro ao Tarrafal, onde é descrito como «convicto nas suas ideias subversivas», «evoluído e irrecuperável». Em outubro de 1968 é indicado pelo director do Campo como tendo «bom comportamento prisional», mas não estando «reabilitado» e mantendo-se «o seu grau de perigosidade», que desaconselha o seu regresso à Guiné. Regressa em 1969.

Francisco Jerónimo Mendes Vieira

Francisco Jerónimo Mendes Vieira
Nasceu em Geba, a 13 de setembro de 1932. De etnia Biafada, católico, casado «segundo o uso da terra», pai de três filhos, como 2º grau, empregado comercial – auxiliar da Operação da firma António Silva Gouveia em Geba. Aderiu ao P.A.I. em 2 de junho de 1962. Preso pelos Serviços Militares em Geba, em 27 de junho de 1962, conta ter sido violentamente torturado, espancado, preso por cordas ao tecto com as mãos atadas, o que lhe provocou problemas de mobilidade, obrigando-o ao uso de bengala. Deportado para o Tarrafal em setembro de 1962, embora com «bom comportamento prisional», ali permaneceu até 1969.

Iai Iai Camará ou Iaia Camará

Nasceu em Caur de Cima, área do posto administrativo de Empada, em 1932 (?). De etnia Biafada, maometano, lavrador, analfabeto, casado segundo os usos e costumes, pai de dois filhos. Aderiu ao P.A.I.G.C. em março de 1962. Foi preso pelos Serviços Militares a 4 de junho, dando entrada no Tarrafal três meses depois. Embora referindo-o como «bem-comportado», os responsáveis do campo consideram-no «perigoso e irrecuperável». Regressa à Guiné em 1969.

Iái Naiunga

Iáiá Djaló

Ilfone Nhanghada ou Infone Nanghada

Imbali Naialá

Imbunhe Nahedé

Imbunhe Nassua

Impoque Nadum

Inácio João Martins

«Cudade» Nasceu em Inchalé, em 1922 (?). De etnia Biafada, católico, casado «segundo os usos e costumes», pai de três filhos, lavrador, analfabeto. Adere ao P.A.I. em maio de 1962 e é preso pelos Serviços Militares a 28 de julho. Levado para Bafatá, integra o grupo de 100 presos guineenses que dão entrada no Tarrafal a 4 de setembro. Considerado com «bom comportamento prisional» e «reabilitado», regressa à Guiné em 1969.

Inácio Soares de Carvalho

«Naci» ou «Nacy» ou «Nassi Camará» Nasceu a 29-04-1916 na Praia, Ilha de Santiago, Cabo Verde. Criança, foi com os pais para a Guiné, onde viveu a maior parte da sua vida. Em 1939, começou a trabalhar no BNU (Banco Nacional Ultramarino) em Bissau. Em 1956, influenciado pelo seu compadre e colega Abílio Duarte, envolveu-se na luta política, primeiro no MLG – Movimento para a Libertação da Guiné – e depois no PAIGC. Preso pela PIDE nas instalações do BNU a 15-03-1962, foi deportado para o Tarrafal em 2 de setembro seguinte, permanecendo ali três anos. A 16-10-1965, foi transferido para a colónia penal da ilha das Galinhas, no arquipélago dos Bijagós. Libertado em 1967, foi preso e encarcerado na 2ª Esquadra de Bissau, em 1972, saindo três meses depois, sem culpa formada.   De novo preso no ano seguinte,  só veio a conhecer a liberdade após o 25 de Abril de 1974 em Portugal.  Nos finais da década de 70, regressou à sua terra natal, Cabo Verde, afastando-se da vida política ativa. Faleceu a 26 de dezembro de 1994. 

Indafá Nandjula ou Danfan Najula

Nasceu em Porto-Gole, circunscrição de Mansoa, em 1937. Solteiro, lavrador. Analfabeto. Preso pelos Serviços Militares em 25 de julho de 1962, por pouco antes ter aderido ao P.A.I.. Levado para Bafatá, é depois enviado para o Tarrafal, onde dá entrada a 4 de setembro. Embora lhe seja sempre atribuído «bom comportamento prisional», em 1964 e 1965 é considerado «perigoso e irrecuperável» e só em 1968 dito «reabilitado para meio isento de subversão». Regressa à Guiné em 1969.

Intchami Nantam ou Tcham Nantam

Jacinto Francisco Cabral da Cunha

Nasceu em Bolama, a 7 de junho de 1940. De etnia Papel, católico, solteiro, com o 2º grau, professor catequista das Missões Católicas. Acusado de ser do P.A.I., foi preso pelos Serviços Militares em Cacheu, a 27 de julho de 1962, e enviado para o Tarrafal em setembro. Em outubro de 1968, o director do Campo, Eduardo Vieira Fontes, atesta que tem «bom comportamento prisional», mas «não é dos que tem protestado arrependimento» e continua a ser considerado «não reabilitado». Regressa à Guiné em 1969.

João Lobo de Pina

John Eckert

Nasceu em Bissau, a 4 de março de 1932. De etnia Papel, católico, solteiro, com o 2º ciclo dos liceus, funcionário da Câmara Municipal. Aderiu ao PAIGC em 29 de janeiro de 1962. Em 22 de fevereiro viajou para Portugal em gozo de licença, sendo preso em casa pela PIDE a 29 de março e transferido em 4 de abril para a Guiné, onde transitou por vários estabelecimentos prisionais, 2ª Esquadra de Bissau, Cadeia de Mansoa, Ilha das Galinhas. Deu entrada no Tarrafal 4 de setembro de 1962. Em 1964, é descrito como «evoluído, denotando firme convicção nas suas ideias políticas», mantendo correspondência «com elemento desafecto à nossa situação» e como «completamente irrecuperável». Em outubro de 1968, o director do Campo atesta o seu «bom comportamento prisional» e afirma que «tem proclamado arrependimento» e se acredita que «em meio isento de subversão (…) não constituirá perigo para a sociedade». Regressa à Guiné em 1969.

Jorge da Silva

Jorge da Silva
Nasceu em Bolama, a 14 de agosto de 1934. De etnia Mancanha, católico, solteiro, com a instrução primária, guarda-fios dos CTT em S. Domingos. Preso a 28 de julho de 1962, por ter o nome numa lista do P.A.I. apreendida pela PIDE. Preso no Batalhão de Bula até 31 de agosto, levado para a Ilha das Galinhas, embarcou no dia seguinte para o Tarrafal. No campo, onde trabalhou como pintor, continuava a mobilização: «Fazíamos reuniões semanais para manter viva a chama da luta, à espera do dia da nossa libertação». Aproveitavam também para estudar: «Muitos sequer sabiam ler ou escrever e aproveitaram para aprender. (…) Com miolo de pão fazíamos uma ferva, dava uma espécie de cola; quando íamos às obras aproveitávamos os sacos de papel, colávamos e fazíamos um quadro». O governo da Guiné não autorizou que fizessem exames. Reconhecendo-lhe «bom comportamento prisional», os responsáveis do Campo julgavam-no irrecuperável. No regresso, em 1969, ficou nos CTT, em Bissau. Após o 25 de Abril mudou para Bafatá, até à reforma.

José de Oliveira Sanca

José dos Santos Ribeiro

Nasceu em Geba, a 19 de julho de 1923. De etnia Biafada, católico, com sete filhos, com o 1º grau de instrução, condutor-auto na firma António Silva Gouveia. Filiou-se no P.A.I. no início de junho de 1962 e, a pedido da PIDE, foi preso pelos Serviços Militares em Bafatá a 27 de junho. Ao longo do tempo de prisão no Tarrafal sofreu três sanções disciplinares. Em 1968, o Director do Campo escreve: «Não convence o seu apregoado arrependimento. Não se considera reabilitado e não está diminuído o seu grau de perigosidade». Regressa à Guiné em 1969.

José Lopes

Nasceu em Bissau a 5 de novembro de 1926. De etnia Papel, católico, pai de três filhos, com a 3ª classe, solteiro e taberneiro. Aderiu ao PAIGC em 2 de junho de 1962 e foi preso pelos Serviços Militares a 30 de junho seguinte. Chegou ao Tarrafal a 4 de setembro, no grupo dos cem presos enviados da Guiné Tem «bom comportamento prisional» e é considerado «reabilitado». Regressa à Guiné em 1969.

José Lopes Correia

Nasceu em Nhacra, a 21 de fevereiro de 1937. De etnia Balanta, católico, solteiro, com o 2º grau de instrução, professor catequista da Missão Católica de S. José de Bolama, na escola de Banta-El-Sela, área do posto administrativo de Bula, circunscrição de Fulacunda. Aderiu ao PAIGC em dezembro de 1960. Preso pelos Serviços Militares a 7 de julho de 1962, deu entrada no Tarrafal a 4 de setembro do mesmo ano. Embora tendo «bom comportamento prisional», não é considerado «reabilitado» e o seu regresso à Guiné é visto como representando «perigo para a sociedade». Regressou à Guiné em 1969.

José Pereira da Silva

Luís António da Silva

«Ache» Nasceu em Bolama, a 14 de janeiro de 1938. De etnia Papel, católico, solteiro, 1ºgrau de instrução, agricultor. Segundo a versão da administração do Campo, foi «detido em Bolama pelos Serviços Militares a 30 de junho de 1962, acusado de estar implicado na morte de um motorista europeu, em cuja camioneta seguia com outros nativos, entre os quais os também detidos Ahna Jam e Marcos Gomes, morte essa perpetrada por 3 terroristas que, na altura em que a camioneta se encontrava parada por falta de gasolina ali apareceram». A versão do próprio tem divergências: A 2 de julho de 1962, viajara para Empada no carro de Januário Simões Marcelino, o qual foi «assaltado por bandos armados». «Por ser testemunha ocular do sucedido, fora preso pelas autoridades militares por suspeita e para averiguações». Levado para Tite, onde prestara declarações, seguiu depois para a Ilha das Galinhas e daí para o Tarrafal, em setembro. É-lhe atribuído «bom comportamento prisional», e em 1968 é considerado» reabilitado». Regressa à Guiné em 1969.

Macário Freire Monteiro

Macário Freire Monteiro
«Telo» Nasceu em Cacheu, a 12 de dezembro de 1944. Oficial de diligência na Administração de Fulacunda, aderiu muito jovem ao PAIGC. Preso em Fulacunda, a 30 de junho de 1962, passou por Tite, pela PIDE deBissau, onde e pela Ilha das Galinhas. A 2 de setembro embarcou para o Tarrafal: «No ‘África Ocidental’, fomos postos no porão, davam-nos água, um balde, éramos muitos e não havia comida. (…) No Tarrafal «Estivemos dois anos sem comer arroz. (…) Não podíamos escrever. (…) Depois de dois anos começámos a estudar, os que tinham mais habilitações davam aulas àqueles que tinham menos.(…) « Preparou-se assim para o exame do 5º ano, que fez ao regressar à Guiné, em 1969. Nessa altura ficou em Bissau, trabalhando â experiência com um familiar delegado do Procurador da República. Mais tarde concorreu para aspirante do Registo Civil e foi colocado em Farim, até à independência. Continuou sempre ligado ao PAIGC. Em 1984 foi para o Supremo Tribunal de Justiça, onde se reformou.

Malam Darame

Malan Sambú

Nasceu em Indjassane, em 1936. De etnia Biafada, muçulmano, «casado segundo os usos e costumes», pai de duas filhas, analfabeto, lavrador. Aderiu ao P.A.I.. Preso pela PIDE em 3 de fevereiro de 1962, passou 5 meses na cadeia daquela polícia em Bissau, outro mês na prisão de Mansoa, e em setembro foi enviado para o Tarrafal. É-lhe atribuído «bom comportamento prisional» e é considerado «reabilitado». Regressa à Guiné em 1969.

Mamadu Cali ou Mamadu Cassamá

Mamadu Camará

Mamadú Djaló

Nasceu em Bafatá, em 1923 (?). De etnia Fula, maometano, analfabeto, casado «segundo o uso e costume», pai de uma filha, , cozinheiro. Membro do PAIGC, foi preso por um destacamento militar em Barro, a 7 de fevereiro de 1962. Deu entrada no Tarrafal a 4 de setembro desse ano. Embora em 1964 e 1965 responsáveis do Campo o descrevessem como «elemento perigoso e plenamente irrecuperável», em 1968, o director Vieira Fontes refere que o preso tem «bom comportamento prisional» e está «diminuído o seu grau de perigosidade». Voltou à Guiné em 1969.

Mandu Biai

Manuel Amadu Djaló

«Corca Djaló» Nasceu em 1927 em Farim. Primeiro-cabo da Polícia de Segurança Pública, detido no seu posto a 14 de março de 1962, foi submetido a interrogatório e tortura na própria Esquadra. Encarcerado depois na cadeia da PIDE em Bissau, sofreu várias sessões de tortura. A 3 de agosto mudou para o quartel de Mansoa, com espancamentos diários. A 1 de setembro, com 13 companheiros, foi levado para João Landim. Juntaram-se-lhes 86 presos da cadeia da PIDE em Bissau. Levados para Ilha das Galinhas, embarcaram no dia seguinte no «África Ocidental», com destino ao Campo de Concentração do Tarrafal. Divididos por 2 celas, foram mantidos fechados, até à morte em novembro de dois presos, Cutubo Cassamá e Biaba Nabué. A 16 de outubro de 1965, voltou a Bissau e à cadeia da PIDE. A 20 de novembro foi enviado para a Ilha das Galinhas. Libertado a 4 de abril de 1967, permaneceu seis meses sob residência fixa em Bissau. Depôs perante o Comité de Descolonização da ONU em Conacri, em abril de 1972.

Manuel Neves Trindade

Manuel Neves Trindade
Nasceu a 18 de abril de 1937, em Susana (São Domingos). Alfaiate, foi preso em  julho de 1962, com um colega, quando se encontravam numa festa de batismo e levados para o quartel, onde o interrogaram sobre os seus contactos com os «terroristas», que negou. Chicoteado até cair, depois amarrado de mãos e pés, ficou numa cela três dias sem comer, «davam-nos apenas água para beber». Foram depois levados para a cadeia de São Domingos e depois de uma semana para Bula, onde passaram mais um mês na cadeia. Em setembro foram levados para João Landim e depois de barco para o Presídio da Ilha das Galinhas, onde só estiveram um dia, partindo depois no navio «África Ocidental» para Cabo Verde, para o campo de concentração do Tarrafal, onde ficou até 1964, tendo sofrido uma tortura de três dias de uma gota de água a pingar-lhe na cabeça sem parar. Reenviado para a Guiné, foi declarado «livre, mas com vigilância», devendo apresentar o documento com essa indicação quando se deslocava.

Manuel Vaz Horta Santy

Marco Gomes ou Marcos Gomes

Nasceu em Biombo, em 1922. De etnia Papel, católico, solteiro, analfabeto, guarda-fios de 3ª classe dos CTT. Preso em Empada pelos Serviços Militares a 28 de junho de 1962 por «suspeitas de ter tomado parte na morte de um motorista europeu, em cuja camioneta seguia com os também detidos Ahna Jam e Luís António Silva». Depois de um mês preso em Tite, foi enviado para a Ilha das Galinhas, e integrou o grupo de 100 presos enviado para o Tarrafal em setembro seguinte. Em 1968, o director Vieira Fontes atesta ter «bom comportamento prisional» e ser «considerado reabilitado». Volta à Guiné em1969.

Mário Mamadú Turé ou Momo Turé

«Mouro» Nasceu em Bissau, a 11 de maio de 1939. De etnia Sosso, maometano, com o 1º grau de instrução, solteiro, empregado comercial. Aderiu ao P.A.I. em setembro de 1961. Foi preso pela PIDE em 15-03-1962, dando entrada no Tarrafal a 4 de setembro desse ano. Em outubro de 1968, o director Vieira Fontes diz de Turé que tem «bom comportamento prisional», mas «não está reabilitado e constitui perigo para a sociedade o seu regresso à Guiné, especialmente na actual conjuntura». Deixa o Tarrafal a 30 de julho de 1969, a bordo do navio UIGE, integrando o grupo de 52 presos guineenses que haviam ficado ainda no Campo de Chão Bom. Quatro dias depois, já na Guiné, é restituído à liberdade. Significativamente, dois dias antes de ser assassinado, Cabral escreveu para um camarada: «Momo, Bassiro e Aristides Barbosa agiram como oportunistas e ambiciosos que não tem qualquer respeito pela obra que o Partido já fez mas querem aproveitar-se dela para se servirem».

Mário Soares

Mário Soares
Nasceu em Bula em 1943. Professor da missão católica, aderiu ao PAIGC em março de 1961. A 28 de junho de 1962 foi preso por militares do Batalhão de Caçadores 237. Depois de um mês preso em Tite, seguiu para a Ilha das Galinhas, por mais um mês. Em setembro integrou um grupo de cem presos transferidos para o Tarrafal, no navio África Ocidental. Ali trabalhou como servente na reparação das casernas e residências dos guardas e fez parte de um grupo musical: «Comussa – Conjunto Musical do Sentimento Africano». Entrou no Tarrafal a 4 de setembro de 1962. Apesar do seu «bom comportamento», consideravam-no «perigoso e irrecuperável». Sairia em julho de 1969, entre os últimos guineenses no campo. Chegados à Guiné, «fomos metidos na sede da PIDE e noutro dia levados para o Palácio, onde estava o Spínola. Ele discursou e o nosso mais velho, Rafael Barbosa, também (…) Depois viemos a saber que alguns dos nossos companheiros foram para o mato e tomaram parte na morte do nosso líder».

Mussá Camará

Nasceu em Farim. Etnia «Mandinga», muçulmano, analfabeto, casado «segundo os usos e costumes», pai de dois filhos, lavrador. Filiou-seno P.A.I. em 21 de fevereiro de 1961. Preso em Mores em abril de 1962, a pedido da PIDE, pelos Serviços Militares de Mansoa. Acusado de implicação em actos subversivos, foi levado para Maussabá, depois para Mansoa, Bula, Bissau. Em agosto foi de novo enviado para Mansoa e, após uma curta passagem pela Ilha das Galinhas, enviado para o Tarrafal, onde deu entrada a 4 de setembro do mesmo ano. Os responsáveis do campo atestaram sempre ter «bom comportamento prisional», mas em 1964 e em 1965 consideravam-no «perigoso e irrecuperável. Só em 1968 é dito «reabilitado para meio isento de subversão». Regressa à Guiné em 1969.

Nicolau Simão Cabral de Brito

«Simão Nerú» Nasceu em Calacunda, a 7 de março de 1936.De etnia Papel, ateu, com a 3ª classe, pedreiro, solteiro, pai de dois filhos. Detido pelos Serviços Militares, a pedido da PIDE, em 28 de junho de 1962, em Tite. Entrou no Tarrafal em 4 de setembro desse ano. Em novembro de 1961, filiou-se no P.A.I., no qual, segundo declarou numa exposição escrita e assinada no Tarrafal, com data de 10 de dezembro de 1968, «exercia a função de subsecretário de controle do primo, Rafael Gomes Barbosa, então secretário». Em todas as informações dadas pelos responsáveis do campo, em 1964, 1965 e 1966, é referido ter «bom comportamento prisional», mas julgarem-no «irrecuperável». Mas em em outubro de 1968, o Director do Campo, Eduardo Vieira Fontes, classifica-o como «bom pedreiro, respeitador e diligente», tendo «prestado boa colaboração nas obras do campo» e considera-o «reabilitado».

Pan Namam ou Pan Na Man

Nasceu em Sambassilate, em 1927 (?). De etnia Balanta, ateu, analfabeto, casado «segundo os usos e costumes», lavrador. Filiado no P.A.I. em junho de 1962, foi preso pelos Serviços Militares em Can-Códie em 25 de agosto seguinte e entra no Tarrafal a 4 de setembro. Apesar do seu «bom comportamento prisional», é considerado «elemento perigoso e absolutamente irrecuperável» em 1964 e 65. Em 1966, o então director, José da Silva Vigário, escreve: «Admito que tenha alterado as suas convicções de modo a poder ser recuperado fora do seu meio».

Pana na Iode ou Pana Naiul

Nasceu em Mansoa, em 1920. De etnia Balanta, ateu, analfabeto, casado «segundo os usos e costumes», lavrador. Suspeito de adesão ao P.A.I, foi preso pela tropa do posto de Bambadinca, em julho de 1962, e levado para Bafatá. Um mês depois foi enviado para o Tarrafal. Em 1968 é dito ter «bom comportamento prisional» e «julga-se reabilitado». Voltou à Guiné em 1968.

Paulo Brito Guimarães

Nasceu em Bubaque, a 5 de outubro de 1929. Católico, sabe ler e escrever, solteiro e ajudante de motorista. Preso a 29 de julho de 1962 pela tropa destacada em Susana, por ligação ao P.A.I., em que se teria filiado dois dias antes Levado primeiro para o quartel de Bula, segue para o Tarrafal em setembro. Em 1964 e 1965 é descrito como «completamente irrecuperável». Em 1968, o director Eduardo Vieira Fontes descreve-o com tendo «bom comportamento prisional», «muito submisso, tem trabalhado com assiduidade nas obras do Campo, onde faz de tudo um pouco, sendo um bom canalizador». Considera-o «reabilitado». Sai em 1969.

Paulo Lopes

Nasceu em Bula, a 28 de abril de 1922. De etnia Mancanha, católico, com a 1ª classe, casado «segundo os usos e costumes», agricultor. Filiado no P.A.I. em 15 de maio de 1962, foi preso pelos Serviços Militares em Bula, em 26 de julho. Levado para o Comando Militar de Bula, depois para a Ilha das Galinhas, ingressou no Tarrafal em 4 de setembro de 1962. Descrito sempre como tendo «bom comportamento prisional». Em 1964 e 1965 é dado como «plenamente irrecuperável». Em finais de 1966, o então director, José da Silva Vigário, diz que Paulo Lopes se afirma «arrependido». Em outubro de 1968, o então director, Vieira Fontes, dá-o como «reabilitado». Regressa à Guiné em julho de 1969.

Preto Mancanha

Nasceu em Có, em 1935 (?). De etnia Mancanha, ateu, analfabeto, solteiro, lavrador. Filiou-se no P.A.I. em 20 de março de 1962, é preso pouco depois, a 25 de julho, pelos Serviços Militares, em Bula. Levado primeiro para João Landim, é enviado em setembro para o Tarrafal. Descrevem-no sempre como tendo «bom comportamento prisional», mas em 1964 e 1965, Helder Santos e José da Silva Vigário declaram-no «elemento perigoso e irrecuperável». «Em finais de 66, o mesmo José da Silva Vigário admite que tenha «modificado as suas opiniões» e «seja susceptível de recuperação». Em 1968, Eduardo Vieira Fontes declara-o «considerado reabilitado para meio isento de subversão». Regressa à Guiné em 1968.

Quecoi Faty ou Quecoi Fati

Nasceu em Piche, em 1920 (?). De etnia Mandinga, é muçulmano, casado «segundo uso e costume muçulmano», tem a 1ª classe, e é motorista particular. Aderiu ao P.A.I. em janeiro de 1962. Preso pela PIDE em Bafatá, a 17 de junho seguinte. Ingressou no Tarrafal a 4 de setembro de 1962. Mantém sempre «bom comportamento prisional», mas em 1964 e 1965 os responsáveis do campo, Helder Santos e José da Silva Vigário consideram-no «um tanto insusceptível de recuperação» e em 1966 o segundo considere que «é duvidosa a sua reabilitação». Só em 1968, segundo Vieira Fontes, é «considerado reabilitado para meio isento de subversão». Regressa à Guiné em 1969.

Rui Anastácio Florindo Medina

Sabino Cabral

Sana Turé

Nasceu em Sonaco, em 1920. De etnia Mandinga, muçulmano, analfabeto, casado na igreja muçulmana, empregado comercial. Aderiu ao P.A.I. em janeiro de 1962, e foi preso em Sonaco pelos Serviços Militares a a 10 de julho seguinte, ficando alguns dias em Nova Lamego, e sendo depois transferido para Bafatá e enviado para o Tarrafal, onde deu entrada a 4 de setembro desse ano. É-lhe atribuído «bom comportamento prisional», mas é visto como «elemento perigoso e absolutamente irrecuperável» em 1964 e 65. Em 1966, José da Silva Vigário escreve que Sana Turé se diz «arrependido». Em 1968, Vieira Fontes considera-o «reabilitado». Regressa à Guiné em julho de 1969.

Sancum Sissé

Silva Delgado Barai

Suna Naisna ou Tuna Naisna

Nasceu em Mansoa, em 1924 (?). De etnia Balanta, ateu, analfabeto, casado «segundo os usos e costumes», lavrador. Aderiu ao P.A.I. em junho de 1962 e foi preso a 5 de julho seguinte em Catió pelos Serviços Militares. Transferido primeiro para Tite e depois para a Ilha Adas Galinhas, deu entrada no Tarrafal a 4 de setembro desse ano. Apesar de lhe ser sempre atribuído «bom comportamento prisional», até final de 1966 é rotulado de «perigoso e irrecuperável». Em dezembro de 1966, José da Silva Vigário admite a sua recuperação «fora do seu meio». Em 1968, Vieira Fontes considera-o «reabilitado para meio isento de subversão». Regressa à Guiné em julho de 1969.

Umaru Djau

Unsé Naiógna

Ussumane Seidi ou Ansu Seidi

Nasceu em Xitole, em 1920. De etnia Fula, muçulmano, casado «segundo os usos e costumes», sabe assinar o nome e é alfaiate. Tendo aderido ao P.A.I. em janeiro de 1962, foi preso em Xitole pelos Serviços Militares a 26 de julho e ao fim de pouco mais de um mês enviado para o Tarrafal, onde deu entrada a 4 de setembro. Em 1964 e em 1965, Helder Santos e José da Silva Vigário consideram-no «perigoso e irrecuperável». Em finais de 1966, no entanto, Vigário admite que «fora do seu meio (…) seja recuperável». Em 1968, Vieira Fontes atesta o seu «bom comportamento prisional» mas escreve: «Não convence o seu apregoado arrependimento, mas não deve constituir perigo para a sociedade o seu regresso à Guiné, desde que mantido fora das zonas afectadas». Regressa à Guiné em julho de 1969.

Vasco Luís Lopes da Costa

Alberto Sanches Semedo

Alberto Sanches Semedo
Nasceu em 1939 no lugar de Monte Bode, Calheta de São Miguel, na ilha de Santiago, Cabo Verde, fez a tropa em 1960, mas quando, no ano seguinte, há um apelo a que cabo-verdianos se voluntariem para integrar o exército português em Angola, recusa. Aliciado para o PAIGC por José Reis Borges, integrou o grupo que tentou desviar para Dacar um pequeno barco de cabotagem, o «Pérola do Oceano». Quando Reis Borges desembarca em Rincão, alegadamente para comprar combustível, fica no barco, e é preso a 18 de agosto de 1970. Enviado para a Cadeia Civil da Praia por cerca de seis meses, é depois transferido para o Tarrafal. Aproveita o tempo para estudar, mas o diretor da cadeia não lhe permitiu fazer o exame do 2º ano. Libertado a 1 de maio de 1974, volta para a Calheta de S. Miguel, trabalhando para o Partido. Após uma formação política na União Soviética, foi colocado no Tarrafal. Em 1991 integrou o quadro do Ministério da Agricultura. Reformou-se em 1995.

Ananias Gomes Cabral

Ananias Gomes Cabral
«Goti» Nasceu em Santa Catarina, a 26 de fevereiro de 1941. Agricultor, já envolvido na luta clandestina, foi mobilizado por José Reis Borges para se juntar ao PAIGC, integrando o grupo que tentou desviar um pequeno barco de cabotagem, o «Pérola do Oceano»: «primeiro iríamos para Dakar, onde havia uma representação do PAIGC, e de lá iríamos para Conakry» Quando, assaltado o barco, o dono deste declara não haver combustível para chegar a Dacar, e Reis Borges manda aportar a Rincão e desembarca, alegadamente para ir buscar combustível, Ananias decide fugir: «Se é para morrer, a PIDE vai matar-me na minha casa». Foi de facto preso já em casa. Reencontra os seus companheiros na cadeia civil da Praia. Espancado durante os interrogatórios, passa ali seis meses, sendo depois transferido, com os seus companheiros, para o Tarrafal: «E lá ficámos, até que se deu o 25 de Abril e fomos soltos a 1 de Maio». Voltou a trabalhar como agricultor, colaborando com o PAIGC sempre que solicitado.

António Pedro da Rosa

António Pedro da Rosa
Nasceu em Santa Catarina, na ilha de Santiago, Cabo Verde, a 25 de outubro de 1948. Em agosto de 1970, através de um primo, José Reis Borges, que se apresentou como coronel do PAIGC, vindo da Guiné para recrutar pessoas para a luta pela independência, integrou o grupo que tentou desviar o «Pérola do Oceano». Arranjou um bilhete de identidade falso para o primo, comprou passagens e armas necessárias à operação. Mas o dono do barco declarou não ter combustível para chegar a Dacar, José desembarcou para comprar combustível e, como o barco não chegasse, as autoridades contactaram o capitão e a polícia dirigiu-se ao local. Preso em Rincão, António Pedro foi levado para Cidade da Praia, onde foi interrogado e torturado. Enviado para o Tarrafal em fevereiro de 1971, aproveitou para estudar e, após ser libertado a 1 de maio de 1974, fez exame do segundo ano do ciclo preparatório. Trabalhou algum tempo nos Serviços de Apoio da Câmara Municipal e, mais tarde, veio a ser professor.

Arlindo dos Reis Borges

Arlindo dos Reis Borges
Nasceu em Santa Catarina, na ilha de Santiago, Cabo Verde, a 17 de junho de 1938. Em 1968, envolve-se num grupo de mobilização do PAIGC. Nesse mesmo ano, é contactado por um parente, José (dos Reis Borges), que dizia ser coronel do PAIGC e vinha mobilizar um grupo de homens para ir a Conacry tomar instruções. Integra o assalto ao «Pérola do Oceano». Alfaiate, fez fardas do PAIGC para todos do grupo e uma bandeira do Partido para içar perto do destino. Quando aportam a Rincão e José sai, para comprar combustível, é um dos que fica a bordo. A tripulação contacta a PIDE. São levados para a delegação daquela polícia na Praia, durante três meses. Seguiram-se quatro meses na Cadeia Civil e depois o Tarrafal. No dia 1 de Maio de 1974, um guarda diz-lhes: «Está tudo na rua, a pedir a vossa libertação». Quando chegam Felisberto Vieira Lopes, David Hopfer Almada e Arlindo Vicente Silva, «soubemos que era verdade, que íamos ser libertados».

Carlos António Dantas Tavares

Carlos António Dantas Tavares
Nasceu a 11 de junho de 1946 na ilha Brava, Cabo Verde. Criança, viveu em Angola e fez a instrução primária em Lisboa. Em 1958 volta para S. Vicente, Cabo Verde. Aos 17 anos muda para Santo Antão, como professor primário em Ribeira da Torre. Em setembro de 1967, vê recusada a admissão como professor eventual, por falta de confiança política e a 24 de outubro é preso na Praia, quando Lineu Miranda e Jaime Schofield são presos em Santo Antão. Dois meses depois, em S. Vicente, é preso Luís Fonseca. Julgados em outubro de 1969, é condenado a dois anos e meio de prisão e depois a quatro anos e medidas de segurança – como Jaime Schofield e Luís Fonseca. Em março de 1970, entram no Tarrafal. Em agosto, juntam-se-lhes os presos ligados ao assalto do «Pérola do Oceano» . Entretanto, aliciando guardas, recebem informações e até um pequeno rádio: «Foi através desse aparelho que ficámos a saber da morte de Amílcar Cabral». Carlos, Jaime e Luís saem um mês depois. Lineu só vem a sair a 1 de Maio de 1974.

Carlos de Lineu Soares Miranda

Carlos de Lineu Soares Miranda
Nasceu a 30 de março de 1921 no concelho de Ribeira Grande, ilha de Santo Antão, Cabo Verde. Foi professor primário em Portugal e na Guiné-Bissau, onde desempenhou as funções de inspetor escolar. Contactado em 1966 por Amílcar Cabral, em Paris, viajou para a Guiné Conakry, recebendo formação política e instruções para regressar a Cabo Verde e participar na luta política clandestina. Voltou a Santo Antão, trabalhando com Luís Fonseca, Jaime Scoffield, Carlos Tavares, Osvaldo Osório, Silas Miranda, Bernardo Oliveira «Beitz» e outros, numa intensa atividade de mobilização contra o poder colonial. Denunciado e preso em outubro de 1967, foi condenado a 7 anos de prisão (com medidas de segurança) no campo de concentração do Tarrafal. Saiu no 1.º de Maio de 1974. Após a independência, foi eleito deputado pelo círculo de Ribeira Grande na 1ª legislatura. Foi também o primeiro presidente do Instituto Caboverdiano de Solidariedade e membro fundador da ACOLP – Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria. Faleceu em S. Vicente, a 23 de janeiro de 1992.

Eugénio Borges Furtado

Eugénio Borges Furtado
Militante do PAIGC na zona de Santa Catarina, Santiago, Cabo Verde, integrou, em agosto de 197, o grupo que tentou o desvio para Dacar do navio «Pérola do Oceano», que fazia a ligação entre as ilhas cabo-verdianas. Arguido no processo 8/70, da Delegação da PIDE/DGS em Cabo Verde, e por determinação superior, tratada entre o inspetor superior Coelho Dias, da DGS, e o Director do Capo de Trabalho de Chão Bom, é enviado, com os seus 12 companheiros, para o Tarrafal, onde dá entrada a 24 de março de 1971. Como todos os outros elementos do chamado grupo do «Pérola do Oceano» é libertado no dia 1.º de Maio de 1974.

Fernando dos Reis Tavares

Fernando dos Reis Tavares
«Toco» Nasceu na Assomada, ilha de Santiago, Cabo Verde, a 13 de abril de 1940. O convívio com emigrantes e portugueses deportados na ilha leva-o a imaginar a possibilidade de uma sociedade diferente. No final dos anos 50, encontra no liceu da Praia colegas influenciados pelas ideias nacionalistas. E em 1961, no serviço militar em Portugal, liga-se a outros milicianos, próximos do PCP ou do MPLA. Parte para Angola como furriel miliciano, mas não lhe atribuem tarefas na unidade. No regresso, vai para Portugal e daí para França. Contacta o PAIGC, que lhe pede que volte a Cabo Verde, «para aliciar pessoas para a luta armada de libertação nacional». Regressa em fevereiro de 1968 e é preso em julho. Permanece na Cadeia Civil da Praia até abril de 1970, quando é enviado para o Tarrafal: Em outubro é transferido para S. Vicente, para ser julgado. Já não volta ao Tarrafal. É libertado a 9 de janeiro, com José Maria Ferreira Querido e Gil Querido Varela, «por falta de provas».

Gil Querido Varela

Gil Querido Varela
«Kid Varela» Nasceu em Achada Além, Santa Catarina, ilha de Santiago, Cabo Verde, a 14 de maio de 1935. O seu interesse pela política começa na adolescência, durante a grande fome de 1947, que nunca esqueceu. Em 1965, concorre a um lugar de professor e, embora fique bem classificado, não consegue o emprego, por ter uma informação negativa da polícia política. Nesse mesmo ano adere ao PAIGC, num grupo coordenado por Felisberto Vieira Lopes. Juntar-se-á depois ao grupo de Fernando Tavares, «Toco»., vindo a ser preso em 1968, após a prisão deste, e no mesmo dia que outros membros desse grupo, como o seu parente José Ferreira Querido. Interrogado e torturado na Polícia, no Plateau, e transferido depois para a Cadeia Civil da Praia, entra no Tarrafal, com «Toco» e José Querido, ainda na condição de preso preventivo, em abril de 1970. Enviados para julgamento em São Vicente, em outubro, são todos absolvidos por falta de provas. Sai em liberdade a 9 de janeiro de 1971.

Ivo Pereira

Ivo Pereira
«Fefa» Ativo na mobilização e recrutamento de elementos para a luta do PAIGC na área de Santa Catarina, Santiago, desde finais da década de 60. Fez parte do grupo que, aliciado por José dos Reis Borges, na noite de 18 para 19 de agosto de 1970, tentou o desvio para Dacar do «Pérola do Oceano», um pequeno barco de cabotagem entre as ilhas de Cabo Verde. Depois de o dono do barco ter dito não haver a bordo combustível suficiente e ter aportado a Rincão, onde José dos Reis Borges desceu a terra com outros companheiros para ir comprar gasolina, a PIDE foi alertada para o sucedido e todo o grupo foi preso, alguns no navio, outros já em terra. Levados para a Cidade da Praia, permaneceram na Cadeia Civil cerca de seis meses, sendo depois transferidos para o Tarrafal., de onde só saíram no dia da Libertação do Campo, no 1.º de Maio de 1974.

Jaime Ben Hare Solfer Schofield

Jaime Ben Hare Solfer Schofield
Nasceu em S. Vicente a 27 de maio de 1939. Interrompeu os estudos liceais por morte do pai, empregando-se como professor primário. Em 1966, organiza com Carlos Dantas Tavares e Lineu Miranda uma célula do PAIGC em Santo Antão. A PIDE prende-os em 8 de outubro de 1967 e, pouco depois, outro elemento, Luís Fonseca. Aguardaram julgamento cerca de dois anos na Cadeia Civil da Praia (Santiago): «Éramos de Barlavento mas fomos julgados em Sotavento, na Praia. Foi um espetáculo (…) com grande impacto». Condenado, como Dantas Tavares e Luís Fonseca, a quatro anos de prisão e medidas de segurança, entrou no Tarrafal no início de 1970, primeiro no campo dos angolanos, depois transferidos para o lado dos presos de delito comum. Chegados mais 13 presos, de Santiago, organizaram o estudo para todos. Tiveram solidariedade de alguns guardas e funcionários: «Traziam-nos livros, revistas e, até, um transístor». Libertado em fevereiro de 1973, tentou voltar a ser professor, mas apenas conseguiu um lugar nos Serviços de Educação.

João Augusto Divo de Macedo

João Augusto Divo de Macedo
Nasceu na Cidade da Praia, ilha de Santiago, em 1952. Tem 17 anos quando José Reis Borges, seu tio por afinidade, que se diz militante do PAIGC, o desafia para uma deslocação a Conacri, para prepararem a luta de libertação no arquipélago. Desviam um barquinho de ligação entre ilhas, «Pérola do Oceano». Embarcam na Praia, na noite de 19 para 20 de agosto de 1970. Mas quando Reis Borges ordena que o barco se dirija para Dakar, falta combustível para lá chegar. José sai com Juvêncio da Veiga para comprar combustível. Como não regressem, Divo desembarca para os procurar. Encontra-os na Cruz Grande e, com outros do grupo, fogem para Tabugal, onde são presos a 26 de agosto. Levado para a Cadeia Civil da Praia, Divo passa ali cerca de seis meses, sendo depois transferido para o Tarrafal. Só sairá no 1.º de Maio de 1974: Se hoje muitos consideram José Reis Borges agente provocador, Divo tem dúvidas: «Se ele era PIDE, como é que veio mobilizar pessoas para a luta?»

Joaquim Mendes Correia

Joaquim Mendes Correia
«Djoca» Nasceu a 31 de março de 1945, em S. Miguel, na ilha de Santiago, Cabo Verde. Em agosto de 1970, participou na tentativa de desvio do «Pérola do Oceano». O projeto consistia em que, já perto da Ilha do Fogo, rumassem para Dakar. Mas o capitão declarou não ter combustível e foi ancorar em Rincão para o chefe dos assaltantes, Reis Borges, ir buscar à Assoamada dois bidões de gasóleo. Quando Reis Borges desembarcou, temendo ter sido traídos, «Djoca» e outros desembarcaram também, entregando-se à Polícia três dias depois. Passaram seis meses na Cadeia Civil e foram depois para o Tarrafal, até à libertação do campo, no 1.º de Maio de 1974. Em junho, «Djoca» foi encarregado pelo PAIGC de fazer trabalho político no Tarrafal. Foi ainda primeiro-secretário do partido na Calheta, Boa Vista e Pedra Badejo, trabalhou no Secretariado do Conselho Nacional até 1988 e presidiu à Comissão da Reforma Agrária da Praia, extinta a qual foi colocado em Santa Catarina. Passou à reforma antecipada em 1996.

José Maria Ferreira Querido

José Maria Ferreira Querido
«Zéqui» Nasceu em Santa Catarina, Santiago, Cabo Verde, em 8 de dezembro de 1940. Marcado pela fome de 1947 e pela ligação a um deportado português amigo do pai, cedo entendeu que a luta pela independência era o único caminho. No final da década de 50, frequentando em Portugal o curso de regente agrícola, manteve contactos com a Oposição portuguesa, mas regressou a Cabo Verde por influência de Amílcar Cabral: «O nosso trabalho era ‘desbravar’ o chão para os que vinham depois. (…) Em cada zona fui fazendo um levantamento das pessoas com quem podia contar». Preso em setembro de 1968, foi primeiro colocado na Cadeia Civil da Praia e mais tarde transferido para o Tarrafal, que já conhecia, por ter ido observar a chegada dos primeiros presos angolanos e também por ter aproveitado as visitas a um amigo da família, preso de delito comum, para conseguir mais informações. Julgado em S. Vicente, foi absolvido por falta de provas em janeiro de 1971.

Juvêncio da Veiga

Juvêncio da Veiga
«Dissanto» Nasceu em Santa Catarina, ilha de Santiago, Cabo Verde, em junho de 1927. Aderiu à luta inspirado por um texto de Amílcar Cabral. Tendo participado em agosto de 1970 na tentativa de desvio do «Pérola do Oceano», esteve três meses preso na Praia, e foi depois enviado para o Tarrafal. Foi no Campo que, com Lineu Miranda, Luís Fonseca, Jaime Schofield e Carlos Dantas Tavares como professores, aprendeu a ler e a escrever e fez a quarta classe. Mas foi um conflito com Lineu a levá-lo à cela de castigo, a «holandinha»: «Um quarto com 70 cm de altura e 70 de largura. Fiquei 15 dias lá, com um litro de água por dia, uma ração por dia. Não via luz, não via sol». O que não o impediu de manter a estima por Lineu: « (…) Era o melhor amigo que eu tinha no Tarrafal. As nossas camas estavam lado a lado. Aquele problema que teve comigo foi consequência da saturação da cadeia».

Luís de Matos Monteiro da Fonseca

Luís de Matos Monteiro da Fonseca
Nasceu na Ponta do Sol, Santo Antão (Cabo Verde), a 17 de maio de 1947. Durante parte da infância e juventude viveu em S. Vicente. Aderiu ao PAIGC na década de 60. Preso alguns dias pela PIDE em 1966, e de janeiro a março de 1967, é preso em dezembro, na sequência das prisões de Lineu Miranda, Carlos Dantas Tavares e Jaime Schofield. Aguardam, na Cadeia Civil da Praia, o julgamento, que tem lugar em julho de 1969. São depois enviados para o Tarrafal, «para serem «reeducados», e voltarem a abraçar «os valores da civilização ocidental cristã» e «da portugalidade». Exceto Lineu Miranda, saem a 13 de fevereiro de 1973, pouco depois do assassinato de Cabral. Entretanto, contactaram e auxiliaram António Cardoso, angolano encerrado em cela disciplinar. Transferidos para o campo dos presos comuns, aliciaram guardas cabo-verdianos, garantindo contacto com o exterior. Apoiaram nos estudos os presos do «Pérola do Oceano». Após a independência, Luís Fonseca foi diversos anos deputado pelo PAIGC/PAICV. Diplomata, foi Representante Permanente de Cabo Verde na ONU e Secretário Executivo da CPLP.

Luís Furtado Mendonça

Luís Furtado Mendonça
«Luisinho» Nasceu a 13 de março de 1944, em Santa Catarina, Santiago, Cabo Verde. Mobilizado por Pedro Martins e Ivo Pereira para o PAIGC em 1968/1969, integrou o grupo que tentou desviar o «Pérola do Oceano»: «Veio um senhor, José dos Reis Borges (…), disse-nos que era da direção do PAIGC e passou a trabalhar connosco também. Conseguimos arranjar fardas, armas, etc., fomos para a Praia, embarcámos para o Fogo e Brava, e, no meio do caminho, conseguimos tomar o Pérola do Oceano. (…) A meio da viagem o combustível começou a faltar, o barco parou, avisaram a PIDE e foram apanhar-nos no meio do mar. (…) Na Praia, a PIDE fechou-nos três dias, de pé, sem dormir, sem sentar. Estivemos trinta dias a pão e água, sem visitas». Passaram sete meses na Cadeia Civil da Praia, sendo depois transferidos para o Tarrafal, onde ficaram até à libertação do campo, no 1.º de Maio de 1974.

Martinho Gomes Tavares

Ligado a elementos que, na clandestinidade, e na zona de Santa Catarina, Santiago, procuravam mobilizar pessoas para a luta de libertação de Cabo Verde conduzida pelo PAIGC, fez parte do grupo que em agosto de 1970 tentou o desvio do navio «Pérola do Oceano» para Dacar, a fim de se juntar à luta armada de libertação conduzida pelo PAIGC. Preso na sequência dessa ação, passou cerca de seis meses na Cadeia Civil da Praia, sendo depois, com os seus companheiros de aventura, transferido para o Campo de Concentração do Tarrafal, então rebatizado e Campo de Trabalho de Chão Bom, de onde só sairia no dia da Libertação do Campo, no 1.º de Maio de 1974.

Pedro Rolando dos Reis Martins

Pedro Rolando dos Reis Martins

Nasceu em Santa Catarina, Santiago, Cabo Verde, em 1951. Aderiu ao PAIGC em finais da década de 60. É preso aos 19 anos, acusado de mobilizar participantes no desvio do «Pérola do Oceano»: «Estive na Cadeia Civil da Praia, praticamente seis meses a ser torturado pela PIDE, e como não se conseguiu uma acusação coerente contra mim, mandaram-me para o Tarrafal». «Tivemos dois ou três meses sem sol, só mais tarde começaram a dar-nos meia hora de sol por dia e no fim meia hora de manhã e meia hora à tarde». Entretanto organizaram uma escola: «Quem não sabia ler nem escrever fez a quarta classe, os que tinham a quarta classe fizeram o segundo e os do segundo ano fizeram o quinto». A 1 de Maio de 1974, informados pelo diretor de «uma mudança de governo em Portugal», saíram em liberdade. Fundador e antigo presidente da Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria, faleceu a 2 de agosto de 2022.

Testemunho de um combatente
Memórias
Autor: Pedro Martins
Edição: Instituto Camões, Centro Cultural Português, Praia-Mindelo, 1995

Sérgio dos Reis Furtado

Aderiu a um grupo clandestino do PAIGC, orientado por Pedro Martins, na zona de Santa Catarina, trabalhando na mobilização e aliciamento de quadros para a luta. Considerado por Pedro Martins «um dos mais esclarecidos desse grupo do Pérola do Oceano», participou no desvio daquele navio, sob comando de José Reis Borges, de 18 a 19 de agosto de 1970. Quando, alegando falta de combustível, o dono do barco aportou no Rincão, e Reis Borges desembarcou, dizendo que ia comprar combustível, foi um dos que, temendo uma armadilha, desceu também a terra – e, segundo testemunho de Paulo Martins – «entrou em casa de todos esses militantes e destruiu toda a documentação partidária que encontrou». Preso como os restantes membros do grupo, e, ainda segundo Pedro Martins, «foi duramente espancado (…) viveu muito tempo no segredo». Abalado pela dura experiência sofrida, e citando a mesma fonte, «passou todo o tempo com perturbação mental e, quando saiu, morreu pouco tempo depois».

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  • Fase I - Colónia Penal de Cabo Verde
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    • Instalação Fase II
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