MURALHAS
Após a reabertura do Campo de Concentração por Adriano Moreira, a situação geral do governo português e do colonialismo agravou-se notoriamente. E, por isso, cresceram os temores em torno da segurança do Tarrafal.
Em 1965, haviam sido realizadas obras de remodelação e de construção de novas edificações no campo de concentração.
Em 1967, por proposta do governador de Cabo Verde, a Engenharia do Comando Territorial Independente de Cabo Verde elaborou um projecto de construção de muralhas, visando reforçar a segurança do campo, até aí essencialmente constituída pelo arame farpado, a vala e o talude.
Em informação secreta para o Governador da Província de Cabo Verde, datada de 15 de Maio de 1968, o director do campo entendia, no entanto, que “somente a necessidade de aumentar a eficiência de defesa, em caso de desembarque e tentativa de golpe-de-mão inimigo, poderá justificar a execução destas obras.”
Levada a questão ao Ministro do Ultramar, este despacha que “a prudência aconselha que se execute a obra projectada.”
E assim se nasceram as muralhas em torno do Campo de Concentração, não apenas pela hipótese de ataque do exterior, mas também pelo receio de fugas de presos, designadamente caboverdianos, que melhor poderiam encontrar apoio na população.
O QUE OS CARCEREIROS NÃO SABIAM
A censura da correspondência, a proibição de entrada de livros e revistas “inconvenientes”, as dificuldades colocadas às visitas de familiares, os impedimentos postos no acesso ao estudo e a livros escolares, tudo estava organizado para tornar insustentável a vida dos presos.
E, no entanto, dentro do campo de concentração, muita coisa se passava que não era controlada pelos carcereiros – organizavam-se aulas, decorriam debates, chegou a existir pelo menos um transístor que permitia ouvir as notícias da Rádio Libertação e de emissoras estrangeiras.
Muitos presos – arrebanhados à pressa de suas casas ou locais de trabalho – encontraram ali a formação política que anteriormente não tinham, em contacto com companheiros mais experientes.
As visitas, como a do escritor Manuel Lopes (*), desempenharam também um inequívoco papel de ligação ao exterior.
LUTA JURÍDICA
A luta no plano jurídico foi, também, uma arma política contra o regime ditatorial que, em Portugal e nas colónias, impôs a violência e a arbitrariedade.
E foi, igualmente, expressão de solidariedade de todos os que se bateram pela libertação dos presos. O caso dos Habeas Corpus interpostos por diversos presos angolanos é um exemplo dessa luta.