«A 17 de Junho de 1961, quando ainda não estava dominada a grande insurreição que alastrava no norte de Angola desde 15 de Março, e os cárceres angolanos estavam demasiado cheios com as vagas de prisões da PIDE em 1959, 1960 e 1961, o Ministro do Ultramar Adriano Moreira instituiu em Chão Bom um “campo de trabalho”.
[…] A situação em Angola, portanto, é o pano de fundo que justifica a reabertura do Tarrafal, mas os primeiros presos a chegar, em Fevereiro de 1962, estavam detidos em Luanda desde 1959, muito antes de eclodir a guerra.
O seu crime, tipificado como “conspiração contra a segurança exterior do Estado, sob a forma de organização ilícita e organização secreta”, era tão somente a defesa do direito à independência de Angola.»
«Mesmo sendo uma minoria no universo prisional angolano, os que foram para o Tarrafal revelam grande diversidade de filiações políticas, origens étnicas ou regionais, classe social, profissão, religião ou nível de escolaridade.»
«Politicamente, os presos do Tarrafal reflectem a evolução organizativa do nacionalismo angolano. Inicialmente há uma constelação de grupos e siglas, característica dos finais da década de 50 […].»
«Para os Angolanos a ida para o Tarrafal acrescentava, na prática, o degredo à prisão. Mesmo que as condições materiais não fossem piores do que as dos cárceres angolanos, a distância impedia o contacto com outros conterrâneos (e com as notícias “de fora” que sempre conseguem atravessar os muros da prisão) e, sobretudo, impedia o ânimo trazido pelas visitas dos familiares.»