«A Organização Libertária Prisional do Tarrafal (OLPT) contou com mais de seis dezenas de membros, entre eles os dirigentes sindicais e líderes do movimento anarquista Mário Castelhano, Arnaldo Januário e outras figuras de primeira linha.»
«Unidos, os resistentes, formaram uma força coesa contra as intenções dos carcereiros, enfrentaram os piores momentos de repressão, criaram mecanismos de solidariedade em proveito de todos os reclusos, mas os esquemas de pensamento e de ação seguidos pela OPCT e pela OLPT continham profundas divergências doutrinais, que tornavam os conflitos inevitáveis.
Os anarcossindicalistas, que professavam uma ideologia de matriz libertária, confrontam-se com o autoritarismo perfilhado pelos comunistas. […] na OLPT, partilhava-se um espaço de tolerância que permitia discutir as divergências quanto às orientações doutrinais sem que a individualidade dos membros fosse atacada ou desrespeitada.
Entre os elementos da OLPT, quer fossem seguidores da corrente anarquista, anarcossindicalistas, sindicalista revolucionária ou simplesmente simpatizantes, existia um pacto cimentado por muitos anos de luta social conjunta e de autorrespeito.»
«Os presos politicamente organizados, comunistas e libertários, apesar dos ideais divergentes, no Campo do Tarrafal tinham interesses comuns que os aproximavam quer pela fidelidade aos seus ideais, quer pela coragem com que os defenderam, recusando a sujeição e o aviltamento, mesmo em situações de limite.
Esta “grandeza moral”, apenas atribuída a quem assumiu os riscos e as consequências advindas dos comportamentos pautados pelas éticas dos movimentos revolucionários, glorificou os presos resistentes como os verdadeiros “vencedores do Campo do Tarrafal”.»