«O ano de 1962 ficou marcado na história da contestação ao regime colonial português na Guiné como um ano particularmente decisivo por duas razões fundamentais. Em primeiro lugar, pela intensificação das atividades subversivas que conduziriam ao início da guerra por parte do PAIGC, com o ataque ao aquartelamento de Tite (sul do território) em Janeiro de 1963. Em segundo, pelo aumento desmesurado da repressão que se abateu sobre os movimentos independentistas guineenses por parte do regime colonial português.»
«Devido ao elevado número das prisões efetuadas por todo o país na sequência da repressão efetuada entre Março a Julho de 1962, muitos dos detidos tiveram que ser instalados nas esquadras da polícia de Bissau e em “recintos improvisados”, anexos aos Comandos dos Batalhões de Mansoa (Batalhão de Caçadores n.º 238) e de Tite (Batalhão de Caçadores n.º 237), de onde seriam enviados para a Colónia Penal da Ilha das Galinhas, no arquipélago dos Bijagós.
Por questões relacionadas com a segurança, a instalação de presos em recintos improvisados provocou um certo receio às autoridades.
Essa foi a razão que levou a colocação do problema da transferência de alguns deles, sobretudo dos “mais incriminados” ou associados ao “terrorismo” para o Tarrafal (Campo de Chão Bom) em Cabo Verde.»
«Pelas informações que o Diretor do Campo de Chão Bom, no Tarrafal, transmitiu ao Diretor Geral da PIDE em Lisboa, a 28 de Agosto de 1962, apenas entre 30 a 40 presos da Guiné deveriam ser transferidos.
A notícia chegou a ser divulgada pelo próprio Ministro do Ultramar, de visita a Guiné.
A correção do número de prisioneiros seria feira no dia seguinte (29 de Agosto) pela PIDE com sede em Lisboa para 100. Juntar-se-iam assim aos 33 presos políticos provenientes de Angola, muitos deles relacionados com o célebre “Processo dos 50”, que meses antes (Fevereiro de 1962) tinham chegado ao mesmo campo, e aos cabo-verdianos condenados por delitos comuns a penas maiores.»