«Pode considerar-se a criação do campo de concentração do Tarrafal em Abril de 1936 o ponto culminante do processo de reorganização do sistema de segurança política e social operado pelo regime do Estado Novo a partir de 1933, ano da sua institucionalização.»
«É precisamente em 1933, esse ano fundador do regime, que o Governo de Salazar ordena o início dos estudos para a localização de uma colónia penal destinada a presos políticos e sociais em Cabo Verde.»
«Apesar de já existirem, desde 1931, deportados políticos sob prisão na ilha de S. Nicolau, em Cabo Verde, ou nos campos de Timor, o campo de concentração do Tarrafal é o que vem concretizar o novo conceito de colónia penal para presos políticos, onde o regime “configurou a noção de pena com um duplo fim: primeiro de prevenção geral e de intimidação; segundo, de correção ou eliminação individual”, eliminação, como previa a reforma dos serviços prisionais, consistente em “separar o delinquente do convívio social” se ele se revelar incapaz de ser um “elemento adaptável”.
A “eliminação” correspondia, na realidade, à suposta “morte cívica e política do condenado” e em mais de três dezenas de casos, no Tarrafal, correspondeu à sua morte física, vítimas da brutalidade repressiva do regime prisional, das doenças sem assistência médica ou medicamentosa, das condições de habitação e higiene, do esgotamento físico pelo trabalho forçado ou da inclemência climática.»