É numerosa a produção memorialística sobre a primeira fase do Campo de Concentração do Tarrafal (1936-1954) e, bem assim, são já assinaláveis os estudos publicados, sem esquecer catálogos de exposições e outras iniciativas de divulgação e de debate sobre essa realidade.
Nas respetivas fichas, a que pode aceder clicando no seu título, prestamos informação complementar sobre cada obra e, quando possível, incluimos algumas citações de especial relevância informativa.
Tentamos reunir aqui, por ordem alfabética do título, essas referências, ainda que tenhamos consciência de que poderemos falhar algumas delas - que sempre introduziremos à medida que delas tenhamos conhecimento.
MEMÓRIAS
Peça em quatro quadros e um epílogo. Prefácio de João Borda. Ilustrações de Augusto Viana. Lisboa,
Dos 32 presos, que morreram no Tarrafal durante os 18 anos em que o “Campo da Morte Lenta” esteve a funcionar como prisão para os presos políticos portugueses (1936-1954), 9 eram anarquistas, a maior parte ligada à organização do movimento do 18 de janeiro de 1934 contra a fascização dos sindicatos. Aceda ao documento:
Integrado nos setenta anos da abertura e funcionamento do Campo de Concentração do Tarrafal, o Núcleo de Setúbal da URAP apresentou o livro «Manuel da Luz Graça – Tarrafalista Setubalense»
Este pequeno esboço biográfico de Mário Castelhano, feito pelo seu amigo e companheiro de lides sindicais e políticas, Manuel Henriques Rijo, é um documento importante e notável, em primeiro lugar por trazer à luz do dia uma parte relevante da biografia daquele que foi o último secretário-coordenador da CGT, quando esta já estava na clandestinidade.
"Podem chacinar-nos, podem algemar a liberdade, podem erguer uma prisão em cada lar e abrir uma sepultura em cada metro de terra! Os homens tombarão, mas as ideias nobres ficarão sempre de pé até que, por sua vez, possam triunfar sobre o último dos algoses". (J. Correia Pires)
"Com a entrada do capitão Olegário Antunes, os presos tiveram a possibilidade de “organizar as brigadas de serviço para os trabalhos, de acordo com as condições físicas de cada um – brigada de limpeza, faxinas às casernas e à cozinha, distribuição de gentes para alguns serviços nas oficinas, etc.”, a poderem ter livros em seu poder e a organizar uma biblioteca, a montar um campo de futebol
“Quando avistámos as instalações do campo de concentração tornou-se visível, muito perto dele, o perfil inconfundível do cemitério local, Não atribuí a essa circunstância qualquer significado especial. Não me passou pela ideia (, a que alguns testemunhos aludiram,) de que a escolha do local para as instalações do presídio tivesse sido influenciada por essa proximidade.” (...)
Na véspera das cerimónias de trasladação ads ossadas dos mortos do Tarrafal para o Alto de S. João, o Diário de Lisboa entrevista alguns tarrafalistas: Oliver Branco Bártolo, Tomaz Ferreira Rato, Pedro Foyos, Américo de Sousa, António Dinis Cabaço, José Barata e Reinaldo de Castro.
Militante anarcossindicalista, esperantista e escritor, combatente da Guerra Civil de Espanha. Prisioneiro no campos de internamento de Gurs e de Argelès-sur-Mer. Enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal. Após o 25 de abril de 1974, foi colaborador assíduo do jornal A Batalha e membro do Centro de Estudos Libertários de Lisboa.
«Uma das convicções dos antifascistas que estiveram detidos no Tarrafal, era a esperança de que um dia alcançariam a liberdade, quer fosse por vias legais, quer por vias ilegais. Aliás, a esperança, o sonho e a ansiedade pela liberdade faziam parte do quotidiano de todos aqueles que devido a delitos políticos ou comuns se encontravam encarcerados.
Coligido por Emídio Santana, reúne textos sobre o 18 de janeiro de 1934 de Acácio Tomaz de Aquino, Américo Martins, Custódio da Costa, José Francisco, Marcelino Mesquita e do próprio Emídio Santana. ver crítica de Francisco Martins Rodrigues ("O 18 de Janeiro de 1934 foi Anarquista?")
Aquino, Acácio Tomás de, O Segredo das Prisões Atlânticas, A Regra do Jogo Edições, 1978
Obra escrita em 1931 por Mário Castelhano (memórias de outubro de 1927 a outubro de 1931)
Miguel Wager Russell aderiu ao PCP em 1931, tendo sido preso pela primeira vez pela PVDE (a anterior designação da PIDE) em Dezembro de 1931. E 1932, voltou a ser alvo da perseguição dessa corporação odiosa, tendo passado à clandestinidade. Participou em 1932 no Congresso Mundial do Socorro Vermelho Internacional, realizado em Moscovo, como delegado da Secção Portuguesa.
“Havia guardas venais. A troco de dinheiro conseguíamos saber o que se passava, Mas sabendo nós também que a certeza das vilezas para connosco, de que eram autores, trazia a muitos deles inquietações por um tempo que poderia estar distante mas chegaria, e em que nos tornaríamos seus acusadores e juízes, prometíamos-lhes a nossa compreensão futura. Deste modo íamos conseguindo notícias.
Quando os primeiros deportados chegaram, encontraram pedregulhos, vento, calor e mosquitos. (...) O que havia já era o arame farpado e a água do poço. Fizeram umas toscas barracas de lona e, passados alguns meses, morreram os primeiros oito reclusos... (...) “- E o senhor? … Que tem? - Febres.
"Num momento em que muitos, por uma razão ou por outra parecem pretender que se esqueça quantos e quais foram os crimes do fascismo. Ler este livro escrito pelo nosso saudoso camarada Pedro Soares será muito importante e muito útil para quantos ainda o não leram.
"Ao abandonarmos a vila do Tarrafal pela estrada que se dirige para a aldeia de Chambom, separando o pântano da Achada Grande da cadeia do monte que emoldura a baía, divisa-se logo, à direita, em frente, o talude rectangular que protege o campo, em jeito de fortaleza colonial, encimado pelos torreões para metralhadoras, nos quatro cantos do rectângulo, e pelas guaritas dos soldados.
ENTREVISTAS
José Miguel Judas defende que a humanidade não tem nada de que se orgulhar com o Campo de Concentração do Tarrafal, considerando "sem sentido" a candidatura a Património Mundial da UNESCO. LER em:
ESTUDOS
Uma década depois do derrube da I República o regime procurava consolidar-se, esmagando a oposição com uma repressão cada vez mais organizada. A Guerra Civil de Espanha desencadeou-se nesse ano e cedo se tornou evidente que a sorte da ditadura portuguesa, estava ligada aos acontecimentos do país vizinho. Nos inícios de Setembro, as tropas franquistas já tinham obtido alguns êxitos.
A presente dissertação debruça-se sobre os acontecimentos relacionados com a noite de 7 para 8 de setembro de 1936, a Revolta dos Marinheiros.
Memórias do 18 de janeiro na Marinha Grande. Inclui lista de deportados para o Tarrafal e diversos documentos
Campos de concentração em Cabo Verde: as ilhas como espaços de deportação e de prisão no Estado Novo
O presente estudo estrutura-se em três partes principais, compostas por capítulos que se repartem em diferentes subcapítulos. A primeira parte está estruturada em quatro capítulos centrais onde propomos, primeiramente, a definição do nosso problema de estudo, através da identificação de duas vertentes do modelo repressivo do Estado Novo: a via do enquadramento legal e a via do banimento.
Assinala os 70 anos da abertura do Campo de Concentração do Tarrafal. Inclui: - O papel do avante! - O regime prisional - Organização Comunista do Tarrafal - Mortos no Campo do Tarrafal
"Tentámos explorar a alteração dos paradigmas coloniais na década de 1950 e a fachada construída pelo Estado Novo nessa altura, tentando perpetuar as suas práticas através de uma operação cosmética que, vimos a concluir, não resultou na modificação dos seus processos de encarceramento.
O trabalho abrange a República, regime esperado com muita ansiedade e expetativa mas que rapidamente acabou por provocar desilusão às populações da metrópole e das colónias, o Salazarismo, período em que os cabo-verdianos passaram por maior dificuldades económicas e políticas e por último algumas medidas repressivas implementadas pelo regime, visando a sua sobrevivência.
Catálogo da exposição organizada no ex-campo de concentração, em 2009, por ocasião do Simpósio que assinalou o 35.º aniversário da libertação do Tarrafal no 1.º de maio de 1974.
Catálogo da exposição "Memória do Campo de Concentração do Tarrafal" organizada no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira
O silêncio embaraçado que os dirigentes revisionistas mantêm em torno do 18 de Janeiro (como de toda a história do PCP) tem dado espaço a uma campanha anarquista de recuperação dessa jornada, campanha que se impõe desmistificar.
Pretende-se com o presente trabalho estudar, debater e propor uma estratégia de conservação a longo prazo das estruturas edificadas do antigo Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, tendo presente o seu valor histórico e de memória reconhecido pelo governo cabo-verdiano através da classificação como bem integrante do património cultural do País.
Pretende-se com este trabalho saber o porquê da construção do Campo de Concentração; o porquê da escolha do Tarrafal; quantos reclusos foram deportados para ali; quais eram as origens e os motivos das suas prisões. Também se pretende saber como era o quotidiano dos reclusos dentro dessa prisão.
Este trabalho tem por objectivo analisar o papel do Museu da Resistência enquanto locus de reflexão crítica no contexto local e global. A transnacionalidade do Campo de Concentração e os valores históricos e simbólicos são elementos balizadores para o desenvolvimento de um projecto transnacional.
Inclui biografias de António Estrela e José Correia Pires.
RECOMENDAÇÕES DO SIMPÓSIO A Análise Geral do Simpósio permitiu extrair as seguintes Recomendações
Sentir o espaço, contar a história - Centro Interpretativo do Campo do Tarrafal em Cabo Verde Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitetura, com a especialização em Arquitetura de Interiores e Reabilitação do Edificado, apresentada na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa para obtenção do grau de Mestre. Aceda ao texto:
Procuramos realçar a importância de um local de memória comum de uma geração decidida a combater a opressão, a humilhação e a injustiça vividas durante o período de fascismo e de colonização de Portugal em África. Foi essa uma das gerações que consentiu sacrifícios por um ideal de liberdade, de uma dimensão que perdurará na memória das gerações posteriores.
Tomando como tema de estudo a resistência política ligada ao contexto prisional no Campo de Concentração do Tarrafal, pretendeu-se revisitar o período que vai da inauguração desta unidade prisional, em outubro de 1936, até ao seu encerramento, em janeiro de 1954; e, para esse fim, usaram-se os testemunhos de alguns prisioneiros, que escreveram as suas memórias.
Em 1941, os ingleses temiam que Hitler, depois de subjugar a França, avançasse para a Península Ibérica. Receando essa invasão e desconfiando das intenções de Salazar, decidiram montar em Portugal uma rede clandestina que deveria destruir pontes, estradas e outras infra-estruturas para travar as tropas nazis.
O histórico e emblemático Campo de Concentração do Tarrafal-Ilha de Santiago de Cabo Verde, actual Museu da Resistência, enfrenta um processo de degradação constante que se não for levada a efeito uma intervenção urgente, pode conduzir à destruição do seu património arquitectónico e memorial.