Foi longa a preparação de "soluções" salazaristas para encarcerar milhares de presos políticos. E, ao longo desse tempo, à maneira do fascismo italiano e do nazismo alemão, o regime foi destinando muitos desses presos para campos de concentração provisórios instalados, designadamente, em Cabo Verde, em Angola e em Timor.
Para o efeito, realizou-se mesmo uma visita à penitenciária e campo de concentração nazi de Straubing (Baviera), seguramente para que os serviços prisionais portugueses pudessem colher os "melhores" exemplos.
No que respeita a Cabo Verde, o ministro do Interior nomeou um comissão para estudar a instalação de um noco campo de concentração, que substituísse os da ilha de S. Nicolau e da Cidade da Praia. Essa comissão foi constituída pelos engenheiros Heitor Mascarenhas Inglês e Francisco de Melo Ferreira de Aguiar e pelo arquitecto Cottinelli Telmo, que apresentou, em Maio de 1936, o projecto de Colónia Penal, em que previam construir 28 pavilhões, além das instalações para os guardas e restante pessoal.
A obra projetada importava em 6.995.726$08 (escudos), a que acresciam 1.181.594$02 para a parte electrotécnica, ficando fora do orçamento a vedação dupla de arame farpado e as torres de vigia em betão armado, a captação de águas, a rede de esgotos e os depósitos para água, óleos e gasolina.
Mas, em 08-10-1935, Salazar determina que a verba destinada a esse campo de concentração para "presos políticos e sociais" será de 3.500.000$00 "para a construção prevista na 1.ª fase das obras" (ver, em destaque, excerto do despacho de Oliveira Salazar, de 08-10-1935), cometendo ao seu sempre pronto Ministro das Obras Públicas e Comunicações, Duarte Pacheco, não só as obras necessárias, como também o próprio diploma legal que haveria de criar o campo de concentração.
A 25 de Junho de 1936, parte para Cabo Verde o capitão José Júlio da Silva, encarregue pelo ministério do Interior de instalar a colónia provisória.
Dois meses depois, o director da PVDE faz notar ao ministro das Obras Públicas que «os acontecimentos da Espanha tornaram ainda mais, e muito mais, urgente a necessidade daquela Colónia».
Incapazes de organizar o campo de concentração que tinham programado, e perante a tão grande "urgência" invocada, acabam por instalar 24 barracas de lona para 20 pessoas cada uma e outras 9 de menores dimensões, destinadas a alojar um total de 160 a 180 reclusos, dentro de recinto vedado por arame farpado, ao longo do qual, exteriormente, serão colocadas 8 guaritas montadas sobre cavaletes de madeira.
São ainda previstas obras para alojar uma força militar de 80 cabos e soldados.
A 29 de julho de 1936, o ministro das Obras Públicas, Joaquim Abranches, aprovou o orçamento das obras a realizar, que deveriam «aproveitar a mão de obra dos próprios presos que serão instalados provisoriamente em barracas».
Será neste «Campo Provisório da Colónia Penal de Cabo Verde» que, no dia 29 de outubro de 1936, chegam os primeiros 152 deportados, vindos a bordo do vapor «Loanda», que vinham escoltados por uma força da Guarda Nacional Republicana e elementos da PVDE, sendo também instalada ali uma Companhia Indígena de Infantaria de Angola.