Assinala os 70 anos da abertura do Campo de Concentração do Tarrafal.
Inclui:
- O papel do avante!
- O regime prisional
- Organização Comunista do Tarrafal
- Mortos no Campo do Tarrafal
“A falta de vegetação, os montes escarpados, o mar e o isolamento a que os presos estão submetidos, dão à vida, aí, uma monotonia que torna mais insuportável o cativeiro. Como únicos vestígios do mundo há o ar carrancudo dos guardas e das sentinelas negras que vigiam, as cartas das famílias que demoram meses a chegar, e dias a ser distribuídos, os castigos e os enxovalhos, os trabalhos forçados, as doenças e a morte de alguns companheiros.”
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“Novembro, 11 – A alimentação continua intragável de tal maneira que alguns camaradas para ingerirem improvisam umas máscaras com os lenços a ver se assim, sem o cheiro nauseabundo, lhes era possível tragá-la.”
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“Janeiro, 21 – Homens ou feras? A resposta resolve-se neste sentido cada dia com mais razão; estes seres que nos guardam, oprimem e vexam poderiam enfileirar ao lado das hienas, dos tigres e dos chacais na nomenclatura zoológica. Hoje foi abatido a tiro um desgraçado cão que se havia afeiçoado ao nosso trato. E, porque era alvo de carinhos e motivo de distracção para nós, foi morto pelos carcereiros.”
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“Novembro, 5 – Os carcereiros – e muito em particular o médico – andam empenhados em nos massacrar com trabalho. Já não têm respeito pelos doentes crónicos, obrigando-nos – como fizeram hoje – a trabalhar ao sol escaldante. (…) Na «mitra» encontram-se uns 40 doentes e 11 na enfermaria.”