Quem eram estes homens
Quem eram, afinal, os homens presos no Campo de Concentração do Tarrafal?
Eram operários, camponeses, empregados, marinheiros, alguns, poucos, estudantes, dois ou três licenciados.
Militantes políticos, ativistas sindicais, resistentes à opressão da ditadura instalada em Portugal e nos seus domínios coloniais, esses homens tinham princípios e valores, queriam um futuro livre para os seus Povos e para a Humanidade.
Cultura e instrução
A maioria dos presos teria fraca educação formal, alguns mal sabiam ler e escrever e, no entanto, muitos eram homens cultos, experimentados nos seus ofícios, ávidos de línguas e culturas partilhadas com os seus irmãos e camaradas, frequentemente autodidatas, amantes das letras e das ciências.
As lutas que travaram e as perseguições e humilhações que sofreram sustentaram espíritos combativos e desejosos de aprender e transmitir conhecimento aos demais.
«…os presos políticos organizavam cursos, estudavam línguas, aprofundavam os conhecimentos do seu próprio idioma para desenvolverem as suas capacidades de expressão. Quando saíam em liberdade eram melhores militantes, mais sabedores, mais experientes.» [TARRAFAL-Testemunhos, p. 237]
«Organizávamos o ensino. Os mais instruídos ensinavam quem menos soubesse. As aulas chegavam a ser dadas cá fora, estando nós sentados no chão. Quando se fez o barracão destinado ao refeitório, houve períodos em que nos foi permitido utilizá-lo para os nossos estudos. Ali estudávamos e líamos entre o jantar e o recolher. Mas também houve tempo em que nos esteve vedado. Tínhamos aulas de matemática, de francês, de inglês, de economia política e de outras matérias. (…) E muitos que no Campo entraram como analfabetos saíam sabendo ler e escrever, com conhecimentos de francês e inglês, e com uma formação política que lhes iria permitir interpretar corretamente os acontecimentos nacionais e os do mundo. Quantas vezes na pedreira, enquanto carregávamos pedra, fomos fazendo perguntas uns aos outros sobre vocabulário francês ou inglês, ou conjugávamos verbos. Decidíramos estudar oitenta vocábulos por dia.» [TARRAFAL-Testemunhos, p. 253]
Organizar para lutar
O Campo de Concentração do Tarrafal foi construído com o trabalho forçado dos presos, as condições prisionais e a alimentação eram deploráveis, os castigos físicos eram frequentes e violentos, a falta de assistência médica e de medicamentos levou à morte lenta de muitos homens ali encarcerados.
Mas muitos presos resistiram, organizaram-se para resistir, lutando pelas suas convicções e pelos seus ideais.