As barracas de madeira vão de um para outro campo de concentração
Em 27 de fevereiro de 1937, o famigerado diretor do Campo de Concentração do Tarrafal, capitão de Infantaria Manuel Martins dos Reis, insiste com o Engenheiro Delegado das Obras da Colónia Penal, a mando do "Ministério do Interior, por intermédio da P.V.D.E.", na realização de um conjunto de obras que considera essenciais - aí se destaca "a construção de uma prisão que se impõe, como necessidade urgente, visto não poder exercer a minha competência disciplinar, por carência desse elemento".
Em maio desse mesmo ano, o referido Engenheiro Delegado apresenta uma relação das despesas realizadas, que totalizam 68.038$23. De entre elas, aparece referenciada a "desmontagem e frete das oito restantes barracas de S. Nicolau para o Tarrafal", no valor de 18.976$00 (cerca de 27,9% do total).
Ainda durante esse mês de maio de 1937, o Engenheiro Delegado vem apresentar uma relação das "importâncias precisas para conclusão dos edifícios provisórios da Colónia Penal provisária", totalizando 146.190$88, em que a "montagem das 8 barracas de madeira" representa 40.864$00.
Em 17 junho, a PVDE, mandatada pelo ministro do Interior, envia para o ministério das Obras Públicas e Comunicações um ofício solicitando a "possível urgência" na solução das obras do campo do Tarrafal e, para tanto, junta uma informação do Sub-diretor da Secção Prisional da PVDE, cap. José Antão Nogueira, que se deslocara ao Tarrafal e que sublinha a grave situação ali vivida com as tendas de lona a desfazerem-se e a proximidade da época das chuvas e com os ventos dominantes ("arrastando ou deixando ao ar livre os seus habitantes", eufemismo com que se refere aos presos).
Em 7 de outubro de 1937, a PVDE logo informa o ministério das Obras Públicas e Comunicações da "tentativa de fuga dos presos que se encontram na Colónia Penal de Cabo Verde", verificada na noite de 2/3 do mês de setembro, atribuindo essa iniciativa "à falta de luz".
Toda esta correspondência citada ilustra bem o carácter improvisado das decisões dos mandantes do Campo de Concentração, absolutamente indiferentes às condições de saúde e de vida dos presos. Só em 1937, conhecerão a morte no Tarrafal 7 deportados.
E afirma, significativamente, a PVDE: o número de presos á já de cerca de 200 e tanto pelas condenações que sobre eles pesam como pelo seu espírito revolucionário é lícito esperarem-se atitudes de que podem resultar consequências graves.